Minha experiência com o revezamento da "Troxa Olímpica"
Por Jone César Silva
Em 20 de junho, em nosso projeto, houve um atraso de duas horas na chegada da equipe "olímpica" Manaus/RJ que superlotou e quase afundou nosso Flutuante "Amigos do Boto" (ele tem menos de 40 metros quadrados, desconsiderando a casinha, que não foi usada).
Os "Olímpicos" foram escoltados por uma frota gigante da Marinha Brasileira (só faltaram corvetas e submarinos). Havia mergulhador de plantão, um monte de "Soldados Universais" programados para cuidar da chama como se fosse o Santo Graal emanando a chama do divino poder superior intergaláctico abençoado pelo Deus Hefesto.
O barco da Polícia Civil, aparentemente com o a corporação inteira, e o barco de bombeiros, da Guarda Nacional, Barco Ambu-lancha e gente arrogante do Comitê Olímpico que tratou com menosprezo a Prefeita do município de Iranduba (onde se encontra nosso flutuante) e sua equipe.
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Um dia antes, preparamos nosso boto inflável de 15 metros de comprimento que já foi utilizado pela nossa organização (AMPA / INPA) em outras campanhas de proteção aos botos da Amazônia, e ouvimos com clareza auditiva o pessoal do Comitê Olímpico falando para os fotógrafos e cinegrafistas evitarem de filmar ou fotografar o nosso boto.
E, para fechar com chave de ouro, assassinaram a mascote do Comando Militar da Amazônia (CMA), a onça-pintada Juma, que participou do revezamento da tocha (sem autorização do IBAMA nem do IPAAM).
Provavelmente esta onça tenha sido abatida pelo stress causado pelo mesmo frenesi humano e irracional utilizado no planejamento deste revezamento, que eu presenciei no dia de hoje.
Outra coisa legal, "para finalizar". Nosso amigo que citei, que carregou e nadou com a tocha, é um ribeirinho que vive às margens do rio Negro, possui sete filhos e vive com sua esposa, sobrevivendo com o dinheiro que ganha eventualmente da atividade de turismo com botos, às vezes pode receber muitos turistas, mas por semanas pode não receber nenhum.
O Comitê Olímpico cobrou R$ 500,00 (QUINHENTOS reais) para que ele ficasse com a camiseta oficial (confeccionada com o tecido do Santo Sudário, sem dúvida) que utilizou durante sua "apresentação" voluntária, para qual teve que treinar por alguns dias, porque o Comitê achou "mais legal" colocá-los em uma prancha de SUP - "Stand Up Paddle", ao invés de uma canoa tradicional de ribeirinhos da Amazônia.
A "Troxa Olímpica de Hefesto" foi oferecida para ele por uma bagatela de R$ 2.200,00 (DOIS MIL e duzentos pilas).
Enfim, encerrou o circo, os simpáticos organizadores e seus "Soldados Universais" entraram no comboio das Forças Armadas do "Bràzyú", e apenas uma pessoa do Comitê se despediu de mim, particularmente, um português de Lisboa, que me deu um simpático tchau e um aperto de mão, talvez pela vergonha ou remorso de ser descendente de nossos colonizadores e ter presenciado a nossa invejosa organização olímpica.
Esta é minha opinião e conclusão pessoal do que eu assisti hoje. Esta declaração não se estende à opinião alheia dos colaboradores da minha organização e muito menos um posicionamento institucional da mesma.
A noticia boa é que esqueceram de levar a camiseta do Santo Sudário de R$ 500,00...
Querem saber mais sobre a onça, leiam na BBC: