Temos visto tanto a imprensa, quanto alguns posts recentes se referirem à lama que vai "chegar", "passar" e "ser levada para o mar"...
Quem dera que fosse assim. Que essa lama fosse um mero corpo fluido que fosse "passar e ser levado".
Não é isso, a situação é muito mais grave, pois essa lama não vai "passar" em lugar algum, ela já foi e está sendo depositada como um novo leito do rio doce.
Isto é, as próximas chuvas e cheias não "levarão" a lama como se tem dito, mas sim passarão a correr sobre ela.
Ao longo de mais de 400 km da bacia do rio Doce à jusante de Mariana, a lama está recobrindo todo o leito e preenchendo todo o fundo, incluindo reentrâncias, nivelando variações de profundidade, alterando e dizimando todo o ecossistema fluvial existente.
E não apenas no fundo do canal, mas também formando novas margens, ilhas e barras de canal e pontal.
Não se trata de um líquido sendo lavado, mas de um novo substrato sendo formado, absolutamente inerte e estéril do ponto de vista ecológico, onde a vida será praticamente impossível durante longos anos ou décadas.
Apesar de carrear detritos grosseiros (troncos de árvore, rochas, etc.), a base dessa lama é pura argila rica em sílica, que além de absorver e reter elementos contaminantes, serve como um cimento que consolida a sedimentação.
Conforme a lama se desloca pelo rio doce, ao atingir regiões cada vez mais planas e com menor correnteza (ambientes de menor energia de transporte), esta lama vai sendo depositada e se eternizando como novo substrato.
A situação é portanto muito mais grave do uma simples "passagem de lama". Ela não vai "passar"! Ela já está em grande parte depositada ao longo da bacia de um novo rio Doce, que já não é mais o anterior que conhecíamos.
Resta saber o teor de mercúrio, arsênio e outros possíveis contaminantes presentes nesse material que, se presentes em grande quantidade, não resultarão em um pulso trágico de poluição, como os que ocorrem num derramamento de combustível por exemplo, mas sim em uma enorme e grave fonte de contaminação permanente espalhada em um longa extensão de rio, do qual dependem milhares de consumidores urbanos de água e agricultores.
Imagens e Texto: Antonio Lisboa
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