Planeta probido
Nós não podemos impedir as mudanças climáticas sem uma luta política contra a plutocracia
Por George Monbiot
A maior crise da humanidade coincide com a ascensão de uma ideologia que a torna impossível resolver. Ao final dos anos 1980, quando se tornou claro que as mudanças climáticas provocadas pelo homem colocavam em perigo a vida no planeta e a própria humanidade, o mundo estava sob o domínio de uma doutrina política extrema, cujos princípios proibiam o tipo de intervenção necessária para enfrentá-las.
O neoliberalismo, também conhecido como o fundamentalismo de mercado ou economia laissez-faire, pretende libertar o mercado de interferência política. O estado, afirma, deve fazer pouco, mas defender o status-quo, proteger a propriedade privada e eliminar os obstáculos aos negócios. O que os teóricos neoliberais chamam encolher o estado mais parece com o encolhimento da democracia: a redução dos meios pelos quais os cidadãos podem restringir o poder da elite. O que eles chamam de "mercado" parece mais com os interesses das empresas e dos ultraric os (1) . O neoliberalismo parece ser pouco mais do que uma justificativa para a plutocracia.
A doutrina foi aplicada pela primeira vez no Chile, em 1973, onde ex-alunos da Universidade de Chicago, treinados nas receitas extremas de Milton Friedman e financiados pela CIA, trabalharam ao lado de Pinochet para impor um programa que seria impossível em um estado democrático. O resultado foi uma catástrofe econômica, mas na qual os ricos - que assumiram as indústrias chilenas privatizadas e os recursos naturais desprotegidos daquele país - prosperaram muito (2).
O credo foi adotado por Margaret Thatcher e Ronald Reagan. Foi imposto ao mundo pobre pelo FMI e pelo Banco Mundial. No momento em que James Hansen apresentava a primeira tentativa detalhada de modelar a temperatura futura ao Senado dos EUA, em 1988 (3), a doutrina estava sendo implantada em toda parte.
Como vimos em 2007 e 2008 (quando os governos neoliberais foram forçados a aband onar seus princípios para salvar os bancos), dificilmente poderia haver pior conjunto de circunstâncias para enfrentar uma crise de qualquer tipo. Até que não tenha mais escolha, o estado neoliberal, que carrega no seu seio o ódio a si mesmo, não vai intervir, mesmo que a crise se agudize a as consequências se agravem. O neoliberalismo protege os interesses da elite contra todos.
Fonte: The Guardian/via Vitae Civilis
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