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quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Mulher viveu 738 dias na copa de uma árvore para evitar que espécie milenar fosse cortada

Mulher viveu 738 dias na copa de uma árvore para evitar que espécie milenar fosse cortada
Para combater a devastação promovida por uma empresa madeireira, a ambientalista Julia Butterfly Hill enfrentou variações climáticas, 60 metros de altura e precárias condições de vida
Por Henrique Almeida
Estamos numa época em que a preservação da natureza é essencial tanto para a vida do planeta Terra quanto à existência da humanidade. Entretanto, o que você está fazendo a respeito disso? Apenas curtindo e compartilhando páginas de campanhas ambientais em redes sociais? Ou comprando produtos com selos ecológicos no mercado? Para Julia Butterfly Hill, isso não é o bastante, pois a moça foi capaz de passar dois anos e oito dias na copa de uma árvore para salvar do desmatamento uma sequoia de 1.000 anos.
Tudo começou em 1997, após um deslizamento de terras que acarretou a ruína das casas próximas da Floresta Headwaters, na cidade de Strafford, na Califórnia (EUA). A tragédia se deu por conta de uma empresa madeireira, cujas atividades causaram a alteração do ecossistema local.
Sensibilizada com a situação de desamparo das pessoas do vilarejo e da degradação do bosque, Julia se aliou a ambientalistas e metalúrgicos locais para impedir a devastação da natureza. À medida que a derrubada de árvores progredia, a garota tomou uma atitude drástica: escalou uma sequoia milenar, de aproximadamente 60 metros de altura, e decidiu que só desceria quando fosse extinta a possibilidade de corte do espécime carinhosamente apelidado de Luna.
É óbvio que a corporação não deixou barato, arrastando o processo por 738 dias. Enquanto isso, a menina, ainda por volta dos 23 anos, enfrentou o tempo e o vento, além de tempestades e outras condições climáticas, para concluir sua missão de salvamento. Embora sozinha, Julia não estava solitária, pois teve o auxílio de uma equipe que lhe forneceu alimento, um fogareiro, uma bolsa hermética (para as necessidades fisiológicas) e uma esponja para se lavar com a chuva.
Apesar dos utensílios domésticos e de camping, a sensação de estar numa casa da árvore passou longe da moça, já que se abrigava (ou equilibrava?) em uma plataforma de somente 3 m², coberta por uma lona. Atualmente, comentários dando à Julia o título de “heroína” circulam pela internet, entretanto: “Sou uma mulher, me machuco. Sou real”, desabafa ela.
Na batalha, os madeireiros tentaram amedrontar Julia com a queima dos vegetais de tronco próximos à Luna, gerando uma fumaça que irritou os olhos e a garganta da moça. Assustada: “Eu chorei, chorei todo dia”, conta. Julia escutou os “gritos” de cada árvore e o baque delas após chegarem ao chão. “Não é só um barulho, é um sentimento. É um clamor que nos invade.”, comenta a ativista.
O passar do tempo fez com que o embate ganhasse o interesse internacional, uma vez que Julia utilizava painéis solares para manter funcionando a bateria de seu celular para dar entrevistas aos jornais e se manter informada. Em conjunto com o esforço da ambientalista, a exposição midiática e a pressão pública fizeram com que a empresa exploradora de madeira assinasse um documento de valor judicial no qual incluía Luna à lista das árvores a serem preservadas.
Em 1999, Julia pôde finalmente pisar no solo com a certeza de que sua “amiga” se manteria em pé. Entretanto, ainda que tenha obtido sucesso, a moça passou um longo período de instabilidade e sofrimento, transferindo suas emoções pela ponta de uma caneta, o que rendeu vários poemas escritos nas embalagens dos produtos que Julia consumia. Posteriormente, as escritas foram convertidas no livro The Legacy of Luna (O Legado de Luna, em português).
Esta é a história de Julia, que tem “borboleta” no sobrenome (tradução do inglês “Butterfly”.), porém, sem asas, conseguiu alcançar a altura de 60 metros para realizar o sonho de ajudar a conservar o meio ambiente.

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