1º de Maio: a luta também deve se voltar para o futuro
Neste 1º de Maio, dia internacional das trabalhadoras e dos trabalhadores, fui convidada e participarei do Ato Público Unificado, promovido pela União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST), na cidade de São Paulo.
Vou discutir com os trabalhadores suas principais reivindicações: a redução da jornada de trabalho, sem redução de salário (40 horas já!), a ratificação da Convenção 158 que trata da demissão imotivada, o fim do fator previdenciário, a igualdade de oportunidade, o desenvolvimento com valorização do trabalho. Vamos juntos também saudar os 70 anos de instituição do salário mínimo.
Quero aproveitar este espaço, no entanto, para contribuir nesta data festiva e de luta com uma reflexão um tanto diferente. Quero convidar trabalhadoras, trabalhadores e suas lideranças a se voltarem para debater o papel do movimento sindical na luta pelo Desenvolvimento Sustentável.
Primeiro, reconheço que a questão ambiental tem avançado no interior dos sindicatos, principalmente com a criação de secretarias, departamentos e outros espaços dedicados a tratar das questões ecológicas e do modelo de desenvolvimento econômico.
Lembro aqui a contribuição singular de Chico Mendes, com quem fundei a CUT no Acre. Em 1988, no Congresso da Central, ele lançou, apoiado por militantes do movimento sindical do Estado, a idéia das Reservas Extrativistas. Aquilo que era considerado por muitos um sonho, se transformou, com o decorrer do tempo, em política pública. Na minha gestão, como ministra do Meio Ambiente, ampliamos as reservas extrativistas para além da Amazônia, com a duplicação da extensão territorial dessas unidades de conservação e do total de famílias atendidas (de 20 mil para 40 mil beneficiadas).
Também quero ressaltar o trabalho de organismos como a OIT (Organização Internacional do Trabalho), que recentemente lançou um estudo sobre o crescimento dos empregos verdes e a importância deles para enfrentar as mudanças climáticas.
Sabemos, pela ampla maioria da comunidade científica, que a crise ambiental e as transformações climáticas globais estão relacionadas com o modelo de desenvolvimento atual, notadamente com a sua forma de produção e consumo.
Nesta realidade, a indústria, tanto urbana, como rural, tem um papel fundamental. Hoje, ela é parte maior do problema, mas pode avançar para ser solução, dependendo das escolhas e do esforço comum da sociedade, particularmente da visão antecipatória das lideranças de trabalhadores e empresários, que devem atuar juntas pela geração de empregos verdes e pela construção do Desenvolvimento Sustentável no Brasil.
O poder público, em especial o governo federal, também cumpre papel importante nesse processo. No entanto, sua participação decisiva depende da pressão da sociedade civil e do compromisso dos governantes com essa causa.
O nosso país tem grande potencial para avançar na geração de empregos verdes. A adoção de políticas para o incentivo às energias renováveis, por exemplo, poderá criar milhões de postos de trabalho. Os empregos verdes preservam o meio ambiente, diminuem as emissões de CO2 e contribuem para a qualidade de vida, à medida que valorizam a saúde e o bem-estar das trabalhadoras e trabalhadores.
Quando as centrais sindicais colocam a justa reivindicação da redução da jornada de trabalho e a criação de novos empregos, defendendo o desenvolvimento com valorização do trabalho, não podem perder a oportunidade de, no 1º Maio, afirmar também um compromisso da nossa geração com nossos filhos e todos nossos descendentes para assegurar-lhes a qualidade de vida que desejamos e a preservação da vida no planeta.
Por Marina Silva
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