Pescadores em alto-mar: ligação de 100 anos de vida |
Farol de Santa Marta - um paraíso ameaçado - parte 3
O Farol de Santa Marta, localizado segundo algumas referências na esquina do Atlântico Sul, além de todas as belezas naturais existentes e sua mágica que encanta aos olhos daqueles que se surpreendem pelas formações rochosas e pelas dunas imensas que cobrem este lugar, também tem elementos nativos que despontam por sua história e raiz “umbilicalmente” ligadas ao ambiente costeiro, que deu origem a vila dos pescadores e agora é um dos “points” agitados da costa catarinense 100 anos depois.
Pesca na comunidade é sustento de famílias tradicionais |
No Farol de Santa Marta, existem líderes natos que afloraram para a defesa ambiental após adquirirem cultura e sabedoria para elevar sua consciência e perceber o “que estavam fazendo ao paraíso”.
A localidade do Farol em sua história recente teve muitas lutas travadas, para impedir a continuidade de agressões ambientais e que viessem a ocorrer no futuro, quando vários ambientalistas contribuíram neste tempo para salvar o paraíso.
Segundo José Truda, ambientalista de grande quilate no meio ativista nacional por sua luta contra a caça as baleias, definiu em poucas palavras o sentimento pelo local. “Se existe alguma relva ainda no Farol de Santa Marta, é graças a Rasgamar e ao João Batista que lá atuam”.
Ambientalista “porreta” que muito incomoda os “safados” que agridem o meio ambiente, as baleias e a costa marítima brasileira, vê pouco a pouco a invasão de suas belezas naturais por grandes resorts espalhados desde o Pará até as praias do litoral sul do RS. Truda inspira aqueles que “não levam desaforo para casa” e agressão ao meio ambiente sem a pronta intervenção de um ativista, é como ser ofendido para o resto da vida.
João Batista, 42 anos, casado, pai de um menina de 6 anos, diz temer pelo futuro de crianças como a sua, por que está sendo difícil contrapor o modelo “predatório” que está em vigor no momento.
Casa de pescador resiste junto as pedras dos costões do Farol |
Desde que se viu ambientalista na defesa da terra do Farol de Santa Marta, o ativista da ONG Rasgamar colecionou poucos inimigos, muitos amigos e vitórias em defesa da causa da conservação do lugar, algo normal na vida daqueles que militam de forma ativa e sem medos na defesa da razão, que dizem ser nossa condição no reino animália, o da racionalidade.
Desde cedo neste no lugar, sentiu que este seria seu chão para sua vida, e quando teve que optar na mesa do jantar junto a seus pais entre ser um pescador, com barco novo dado pelo pai, ou estudar como asseverou sua mãe, decidiu pela segunda opção, e foi a cidade para se formar, retornando como administrador e uma prancha de surf como instrumento de curtição que até hoje mantém em sua vida.
Lixo deixado pelos "visitantes" das rochas no morro do Farol |
Já com cultura suficiente para entender o mundo, João se viu na obrigação de iniciar a defesa do lugar, primeiro extirpando um lixão que estava poluindo o aqüífero da região e depois contra ocupações irregulares, pela proteção das dunas e sambaquis, mais a organização da comunidade na defesa de sua economia sendo atacada por barcos de pesca de outras regiões.
Para João Batista, hoje se existe mais respeito pelo ambiente local é por que as pessoas passaram a ver o local com outro sentido.
Vista da Comunidade do Farol de Santa Marta |
O progresso que se avizinha, para muitos trará uma sorte incontável de males que poderão ampliar em muitas vezes a problemática ambiental e social do lugar.
Temem muitos os moradores tradicionais que as drogas e crimes comecem a ocorrer e com isso a harmonia da comunidade vir a sofrer impactos.
Única via de acesso ao Farol de Santa Marta |
Uma das ações alternativas encontradas pelas entidades da comunidade foi a parceria estabelecida com a Polícia Militar de Santa Catarina para a criação do Núcleo de Polícia Comunitária do Farol de Santa Marta, quando cerca de uma dezena de pessoas se aliam a força policial para ajudar na manutenção da ordem, principalmente no período noturno em épocas de alta temporada.
Tais iniciativas, segundo João começaram a surgir quando a comunidade começou a perceber a necessidade de prevenir situações que podem colocar em risco o sossego e as belezas naturais.
Chegada da estrada trará benefícios e malefícios também alegam moradores |
A chegada do asfalto para os comerciantes poderá ampliar muito o lucro nas caixas registradoras, mas também ampliará a demanda no balcão do posto policial ou de saúde, alguns já perceberam.
Esta situação, que se reveste da falta de educação de públicos que visitam e “extrapolam” suas liberdades, são seguidos de outros como o lixo jogado nas ruas, esgotos sem tratamento prévio, destruição de dunas com registros fósseis pelos “trilheiros” e motoqueiros em geral.
A ação ativista desta ONG, pautada na esfera da ação direta no âmbito da Justiça Federal, está também sendo levada a escola, para que as centenas de crianças que estudam no Farol, possam ser seguidores de um modelo que venha de encontro a necessidade de conservação e cuidados com a cultura, o ambiente e a história local.
(artigo de ontem) >>> (continua amanhã)
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