Mundo sensorial dos
morcegos ainda surpreende
Além do sonar, que permite 'ver com os ouvidos', hematófagos também 'enxergam' o calor do sangue
Além do sonar, que permite 'ver com os ouvidos', hematófagos também 'enxergam' o calor do sangue
Por Alexandre Gonçalves - O Estado de S.Paulo
Em 1794, o padre italiano Lazzaro Spallanzani sugeriu que morcegos poderiam "ver com os ouvidos". A hipótese, acolhida com ceticismo pela academia, só foi comprovada em 1944 pelo americano Donald Griffin. Pesquisas publicadas nas últimas semanas comprovam que, dois séculos depois, o universo sensorial dos mamíferos alados ainda surpreende.
Os morcegos-vampiros, por exemplo, são capazes de "ver o calor" que emana de vasos sanguíneos. Um estudo publicado na última edição da revista Nature explica em detalhe o refinado mecanismo sensorial que identifica o melhor lugar onde perfurar a pele de eventuais presas (mais informações nesta página).
Todos os mamíferos são dotados de um sistema que detecta níveis perigosos de calor. A proteína TRPV1 está no centro deste termômetro biológico: ela é ativada quando a temperatura ultrapassa 43°C, causando sensação de desconforto.
Mutações fizeram com que a temperatura de ativação da TRPV1 nos morcegos-vampiros caísse para 30°C. As células nervosas do focinho do animal, onde a proteína está presente, formaram um novo órgão do sentido: um sensor infravermelho que revela calor e fluxo de sangue sob a pele. Entre os vertebrados, só algumas serpentes - como jararacas e cascavéis - possuem estruturas semelhantes.
Há quinze dias, a Science dedicou outros dois artigos aos morcegos. Em um deles, descrevia a curiosa relação entre o morcego-beija-flor e uma espécie de trepadeira cubana. A planta tropical adaptou-se ao morcego, principal responsável por sua polinização: folhas sobre os cachos de flores adquiriram a forma de uma pequena concha acústica que guia o sonar dos morcegos até o cobiçado néctar das flores.
Outro trabalho mostrou como morcegos manipulam com maestria a frequência, a intensidade e os harmônicos dos sons que emitem para obter percepções precisas do ambiente ao redor. Tanta sofisticação faz com que não confundam o eco das asas de uma mariposa com o ruído das folhas agitadas pela brisa.
As publicações chegam em um momento oportuno: o Ano Internacional do Morcego, iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
Fonte: O Estado de São Paulo
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