CRIME CONTINUADO E SILENCIOSO CONTRA A BIOSFERA
Por Millos Augusto Stringuini
e José Truda Palazzo Jr.
Oceanos e a vida
As florestas são extremamente importantes para a vida na Terra. Abrigam uma imensa biodiversidade, mantém perenes as bacias hidrográficas, promovem a ciclagem da água na atmosfera e realizam fotossíntese. Aquilo que quase ninguém sabe na humanidade é que somos vitalmente dependentes da fotossíntese realizada nos mares do planeta, seja para sobreviver e ou enfrentar a ameaça das mudanças climáticas de origem antrópica.
O fitoplâncton oceânico afetado pela poluição de todos os estados físicos da água e pelo aquecimento global está sendo reduzido em aproximadamente 1% ao ano.
Segundo estudo publicado recentemente por um grupo de pesquisadores na revista científica Nature, desde 1950 a quantidade de fitoplâncton no planeta já diminuiu cerca de 40%. Isso é muito pior do que o desmatamento das florestas tropicais em termos da produção de oxigênio pela fotossíntese – é um criminoso desastre ambiental de proporções inenarráveis.
Todavia, como as vítimas são plantas microscópicas e não árvores ou mamíferos atraentes aos olhos humanos, a conduta narcisista hedonista negligente da humanidade com a natureza, permite a continuidade desregrada desse crime contra a vida no planeta.
Aquilo que não é visível para os humanos é desconsiderado cognitivamente. O invisível não tem valor.
Não faltarão pessoas para negar a importância desse fenômeno ecológico para a humanidade e a totalidade da vida no planeta. A informação de que o fitoplâncton possui altas taxas de regeneração comunitária em função de fenômenos sazonais, seguramente será apresentada para justificar a continuidade desse atentado criminoso contra a vida no planeta em nome da economia.
Todavia, o que os defensores do absurdo antropocêntrico certamente desconhecem é que os fenômenos de dinâmica populacional e comunitária no Planeta, por Lei natural, invariavelmente terão suas máximas expressões numéricas reduzidas pela pressão constante dos fatores de poluição.
Quanto maior for a poluição de todos os tipos, menor será a abundância e distribuição do fitoplâncton e, portanto, da biodiversidade planetária.
As más notícias não param por aí. O fitoplâncton fixa o dióxido de carbono (CO2) através da fotossíntese, o que contribui para seu próprio crescimento e também da teia alimentar marinha. Uma parte do carbono fixado na biomassa do fitoplâncton termina se tornando o carbonato de cálcio dos sedimentos nas profundezas oceânicas, permanecendo lá por milhares de anos. Todavia, uma boa parte do dióxido de carbono (CO2) que não contribui para o crescimento da biomassa acaba retornando para a atmosfera pela respiração da comunidade fitoplanctônica. O resultado líquido entre a fotossíntese (produção primária) e a respiração combinada determina, portanto, se os oceanos estão atuando como um depósito (sink) de carbono ou como uma fonte (source), ou seja, se estão absorvendo o carbono que emitimos irresponsavelmente na atmosfera ou se estão devolvendo.
Há abundantes evidências científicas de que essa equação é definida em grande parte pela temperatura da água. Quando a temperatura sobe, também sobem os níveis de fotossíntese e respiração. Entretanto, a respiração aumenta mais rapidamente seus níveis de ocorrência que a fotossíntese, transformando os oceanos em fonte, e não mais em depósito de carbono.
O continuado despejo de carbono na atmosfera pelas atividades humanas, inegavelmente provoca o aumento desmesurado da temperatura, provocando também uma diminuição da capacidade dos mares de absorver esse carbono via fotossíntese, formando um ciclo vicioso e uma espiral de destruição que ameaça toda a vida no planeta. Resumindo, como o fitoplâncton oceânico é a base (fotossintética e nutricional) de todas as teias de vida do planeta, diminuindo a quantidade de fitoplâncton, toda a quantidade de vida no planeta diminuirá junto, iniciando pelo zooplâncton, corais, peixes e toda a vida aquática e terrestre. A humanidade está criminosamente promovendo de forma continuada a perda da base de produção primária da vida na Terra, associada à entrada num ciclo de aquecimento retroalimentado de conseqüências avassaladoras.
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Fonte: REDE Os Verdes/via e-mail
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