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sábado, 9 de março de 2013

"Afinal, o Hugo Chávez é bom ou mau?" por Douglas Freitas

Na foto, Chávez em um evento com todos os coletivos jovens da Venezuela, em setembro passado
"Afinal, o Hugo Chávez é 
bom ou mau?"
Quando voltei da Venezuela, esse foi o mais comum questionamento que recebi. Na noite desta terça, no ônibus, ao escutar a notícia da morte de Chávez, essa pergunta feita por amigos e a toda a minha trajetória naquele país voltaram. Muita coisa me marcou durante todo esses três meses que vivi em Caracas, mas sempre destaco três momentos.
Certa vez, captando entrevistas nas ruas, fiz uma pergunta sincera, ainda tentando entender a paixão fervorosa dos venezuelanos por Chávez. "Por que vota por Chávez?" A senhora com seus 60 anos, sem expressar nenhum sorriso, me respondeu convicta: "Porque não quero voltar a ser invisível". Essa frase me martelou durante toda a estada na Venezuela. Não voltar a ser invisível.
Em outra ocasião, outra senhora puxou papo em uma lancheria, por causa da minha camiseta que estampava os olhos do presidente. Também perguntei o motivo de escolher Hugo Chávez. "Antes do comandante chegar ao poder, eu passava fome. Hoje, meu filho está na universidade", me disse. Fui aprendendo aos poucos o que significava a figura daquele homem para o país inteiro.
Acompanhando todos os discursos da campanha - todos mesmo, sem exceção -, entendi um pouco do sentimento que Chávez nutria pelo seu povo e uma das minhas maiores inquietações - o longo tempo no poder - foi tendo suspeitas de resposta. Ter o poder nas mãos seduz, a vaidade faz com que a permanência seja a única possibilidade. Analisando todas as frases e principalmente a paixão com que se expressava, senti que Chávez queria seguir sendo presidente para manter o poder em suas mãos, sim. Mas não por vaidade.
Chávez sentia que, se um dia saísse do Miraflores, o povo venezuelano, o seu povo, estava ferrado, sem amparo. Sem alguém que lutasse por eles, fizesse com que deixassem de comer carne de cachorro e colocasse seus filhos na universidade. No dia 7 de outubro, dia da última vitória de Chávez, vivi o que vai ser um dos maiores acontecimentos da minha vida: a comemoração da eleição no Palácio Miraflores. O centro de Caracas tomado por milhares de pessoas, aquele mar vermelho, com motos raivosas de felicidade para tudo que é lado.
Em meio a toda aquela festa, uma amiga brasileira olhou para mim e tascou o terceiro momento que nunca esquecerei. "Em 2002, durante o golpe, o povo desceu dos morros a pé para defender seu presidente. Hoje, desce de moto para comemorar". É claro que os venezuelanos ainda precisam de mais. No entanto, nos últimos anos, o que não faltou foi esperança. Esperança baseado no real, que era possível mudar, como foi.
Quando meus amigos me perguntavam se Chávez era bom ou ruim, citava sempre esses momentos. Agora, na hora da morte, volta o questionamento sobre a figura Chávez. Uma das coisas que aprendi nesses meses é que aqui o Maniqueísmo não se encaixa.
No fim de tudo, o que mais lamento é que visões políticas às vezes ocasionem comemorações mórbidas. Mas o que mais me entristece é pensar no sentimento da maioria do país neste momento. Espero que superem. Espero que não voltem a ser invisíveis. Espero mesmo. Solidariedade a todos os amigos venezuelanos!
Fonte: REDE Os Verdes/via Facebook

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