Não é, mas parece
Por Jaime Leitão
Diante do número de mortos nas cidades serranas do Estado do Rio, que já passou dos 500 e pode chegar a mil, a tristeza e a indignação se misturam, nos transmitindo uma sensação de impotência e revolta. A diretora do Centro para a Pesquisa da Epidemiologia de Desastres e consultora externa da ONU, Debarati Guha-Sapir , afirmou: “O Brasil não é Bangladesh e não tem nenhuma desculpa para permitir, no século XXI, que pessoas morram em deslizamentos de terras causados por chuva”.
Enchente no Rio de Janeiro/2011 |
Brasil não é Bangladesh, paupérrimo país que fica no centro-sul da Ásia. Por outro lado, em muitos aspectos se parece com ele. A negligência, a corrupção, a falta de prevenção em relação a desastres naturais são realidades simplesmente escabrosas aqui e que denotam o nosso atraso gigantesco.
Na Austrália, as recentes enchentes, com precipitação pluviométrica bem superior a que ocorreu no Estado do Rio, e que produziram imagens tão assustadoras quanto as nossas, ocorreu um número de mortes pelo menos dez vezes menor, porque o alerta foi dado à população das áreas de risco com tempo suficiente para que a maioria fosse para abrigos seguros.
A fala da especialista da ONU foi contundente: “O Brasil praticamente só tem um problema natural e não consegue lidar com ele. Imagine se tivesse terremoto, vulcão, furacões...” . E ela citou também que o Brasil sofreu 37 enchentes em apenas 10 anos . A ineficiência do Poder Público para prevenir novas catástrofes é gritante e escancara o fato de que, por culpa de maus políticos, somos ainda parecidos com Bangladesh e o Haiti, que foi lembrado na música de Caetano Veloso e Gilberto Gil, em um trecho que diz: “O Haiti é aqui, o Haiti não é aqui”.
Enchente no Rio de Janeiro/2011 |
A própria presidente Dilma Rousseff afirmou: “Moradia em área de risco no Brasil é regra, não é exceção”. Ela foi visitar com sete ministros as áreas devastadas e assumiu responsabilidades. Ao contrário de Lula, que demorava muito a aparecer em situações como essa. Quando aparecia.
O Brasil tem que ser repensado na questão referente à ocupação do solo urbano. A maioria da população mora em áreas de risco. Se continuar assim, muitas outras catástrofes acontecerão. E não queremos isso. É doloroso demais e criminoso. Parece que uma bomba atômica caiu sobre Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo. Não foi?
O autor é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação - jaimeleitao@linkway.com.br
Fonte: Jornal Cidade
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