.

.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Não é, mas parece



Não é, mas parece
Por Jaime Leitão
Diante do número de mortos nas cidades serranas do Estado do Rio, que já passou dos 500 e pode chegar a mil, a tristeza e a indignação se misturam, nos transmitindo uma sensação de impotência e revolta. A diretora do Centro para a Pesquisa da Epidemiologia de Desastres e consultora externa da ONU, Debarati Guha-Sapir , afirmou: “O Brasil não é Bangladesh e não tem nenhuma desculpa para permitir, no século XXI, que pessoas morram em deslizamentos de terras causados por chuva”.
Enchente no Rio de Janeiro/2011
Brasil não é Bangladesh, paupérrimo país que fica no centro-sul da Ásia. Por outro lado, em muitos aspectos se parece com ele. A negligência, a corrupção, a falta de prevenção em relação a desastres naturais são realidades simplesmente escabrosas aqui e que denotam o nosso atraso gigantesco.
Na Austrália, as recentes enchentes, com precipitação pluviométrica bem superior a que ocorreu no Estado do Rio, e que produziram imagens tão assustadoras quanto as nossas, ocorreu um número de mortes pelo menos dez vezes menor, porque o alerta foi dado à população das áreas de risco com tempo suficiente para que a maioria fosse para abrigos seguros.
A fala da especialista da ONU foi contundente: “O Brasil praticamente só tem um problema natural e não consegue lidar com ele. Imagine se tivesse terremoto, vulcão, furacões...” . E ela citou também que o Brasil sofreu 37 enchentes em apenas 10 anos . A ineficiência do Poder Público para prevenir novas catástrofes é gritante e escancara o fato de que, por culpa de maus políticos, somos ainda parecidos com Bangladesh e o Haiti, que foi lembrado na música de Caetano Veloso e Gilberto Gil, em um trecho que diz: “O Haiti é aqui, o Haiti não é aqui”.
Enchente no Rio de Janeiro/2011
A própria presidente Dilma Rousseff afirmou: “Moradia em área de risco no Brasil é regra, não é exceção”. Ela foi visitar com sete ministros as áreas devastadas e assumiu responsabilidades. Ao contrário de Lula, que demorava muito a aparecer em situações como essa. Quando aparecia.
O Brasil tem que ser repensado na questão referente à ocupação do solo urbano. A maioria da população mora em áreas de risco. Se continuar assim, muitas outras catástrofes acontecerão. E não queremos isso. É doloroso demais e criminoso. Parece que uma bomba atômica caiu sobre Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo. Não foi?
O autor é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação - jaimeleitao@linkway.com.br

Nenhum comentário: