Trilogia do político latifundiário e do latifundiário político
Políticos latifundiários
Que país surpreendente este nosso Brasil. Quando a gente pensa que uma coisa é uma coisa, essa coisa já é outra coisa. PP e DEM não são os partidos com o maior número de grandes proprietários de terra. Perderam a liderança para o PSDB e o PMDB. Continuamos originais. Somos talvez o único país do mundo com uma socialdemocracia latifundiária. O livro do jornalista Alceu Luís Castilho, “Partido da terra, como os políticos conquistam o território brasileiro” (Contexto), explica como se deu essa formidável mutação. Com base em dados fornecidos pelos candidatos à justiça eleitoral, apresenta, com nomes, hectares e valores, quando estes não são sonegados, o mapa desses novos coronéis rurais.
Nossos representantes controlam mais de dois milhões de hectares. Nada de extraordinário para 12.292 políticos. Uma porção de terra do tamanho de Sergipe. Com alguns ajustes, fica maior que Alagoas, Haiti e Bélgica. João Lyra refestela-se em 53.108 hectares. O ex-governador de Minas Gerais, Newton Cardoso, nem consegue chegar a 200 mil hectares. Contenta-se com 185 mil em 1545 fazendas. A empresa de um certo Joaquim Reis explora esquálidos 500 mil hectares. Blairo Maggi, que já foi do PPS, o ex-partido comunista, planta grãos em míseros 203 mil hectares, sendo humilhado por seu primo, Eraí, que ocupa 380 mil hectares. Essa turminha com espírito cívico detém 1,2% do território brasileiro. Só ficamos atrás do Paraguai em concentração de terras. Alguns políticos, contudo, são modestos proprietários. O conhecido Geddel Vieira Lima só tem 10 mil hectares. Iris Resende não vai além de 21 mil. O pobre do Eunício Oliveira só tem oito mil. A média de hectares por senador é modestíssima: quase mil. Como conseguem eles viver assim? Um mistério.
Alceu Castilho é um chato. Dá muitos números enfadonhos. Fica mostrando que 211 políticos possuem mais de dois mil hectares cada um. Prova que 346 possuem 77% dos dois milhões de hectares declarados. Revela que 77 são donos de mais de cinco mil hectares cada um. Assinala que 29 deles cercam 612 mil hectares. Atenção, ignorantes, não venham falar em latifúndio. Esse é um termo técnico variável por região e município. Um latifúndio por extensão precisa ter, segundo o autor, 600 módulos fiscais. Na região Norte, um módulo fiscal vai de 50 a 100 hectares. Ou seja, para ser latifúndio precisa somar de 30 a 60 mil hectares. Prova de que o latifúndio está praticamente extinto no Brasil. Castilho enfatiza: “Nenhuma terra brasileira com até três mil hectares seria, ainda, latifúndio por extensão”. Restam os latifúndios por (falta de) exploração. Que coisa! Não?
Tem 31 políticos com mais de dez mil hectares cada um. Os prefeitos adoram a vida rural. Alguns não se controlam e usam trabalho escravo. Muitos compram terras longe do seus currais eleitorais. Amam São Félix do Xingu, um município devastador e flamejante. Entre agosto de 2009 e a agosto de 2010 teve 15,9 mil hectares de floresta queimados e 30,6% dos focos de incêndios do Pará. Vez ou outra, políticos esquecem de declarar alguns milhares de hectares ou de cabeças de gado. Inflam e desinflam preços. Chega a ter hectares a 13 centavos.
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Fonte: REDE Os Verdes/via Facebook
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