Restos do tsunami japonês geram interesse arqueológico
A bordo do Sea Dragon, 1.600 quilômetros a leste do Japão – Depois de escaparem por pouco de um tufão, enfrentarem o enjoo e serem bombardeados pela chuva durante dias seguidos, os tripulantes do Sea Dragon se animaram ao avistar um barco encalhado.
O pedaço de quase 70 quilos de um esquife, partido ao meio e enfeitado com ideogramas japoneses, provavelmente era obra do tsunami que atingiu a porção oriental do Japão no ano passado.
Esta expedição científica era incomum por muitos motivos, a começar pelo fato de não contar com cientistas. Tripulantes vindos de seis países moraram num iate durante um mês na esperança de um encontrar um conjunto de destroços para fotografar e comentar em blogs.
Eles fazem parte de uma brigada civil que se espalha pela Costa Oeste e o Oceano Pacífico, recolhendo e classificando os milhares de itens varridos para o mar depois que um terremoto de 8,9 graus na escala Richter provocou um tsunami sobre as comunidades costeiras do Japão, em março de 2011. Em alguns casos, eles estão localizando e devolvendo os artigos aos proprietários.
Esses “cientistas civis” não esperam orientação do governo. Donos de caiaques de Washington assumiram a tarefa de explorar as ilhas remotas em busca de restos, surfistas do Oregon publicaram diretrizes de limpeza nas praias locais e mergulhadores do Havaí removeram destroços ao largo da costa de Maui, a segunda maior ilha do arquipélago.
A iniciativa se tornou rapidamente a espinha dorsal de um esforço nacional para compreender melhor o que está sendo trazido pelas ondas ao longo de milhares de quilômetros de costa.
A Agência Nacional Atmosférica e Oceânica dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês), responsável pelas águas territoriais do país, utilizou um avião teleguiado, em junho, para determinar se o monitoramento aéreo é viável. Redes de pesca, restos de construção de madeira e boias foram colocados na água para verificar se a aeronave não tripulada Puma reconheceria os objetos, enviando, via satélite, as imagens para a NOAA.
Contudo, a NOAA vem contando em parte com os voluntários. O organismo recebeu mais de mil relatos de destroços marinhos nas praias dos EUA desde que a organização criou uma linha telefônica destinada a isso em dezembro passado.
Nem todos os escombros vêm do Japão, mas entre as peças comprovadamente oriundas do maremoto estão cinco barcos pesqueiros abandonados, uma bola de futebol, outra de vôlei e várias boias para pesca.
Os cientistas civis adquiriram um interesse arqueológico pelos destroços.
“Os escombros do tsunami parecem uma cápsula do tempo”, disse Ken Campbell, profissional do caiaque que, com dois amigos guias, visitou as ilhas ao largo de Washington à procura de itens perdidos.
Muitos consideram o campo de destroços uma espécie de Pompeia aquática, expressiva, mas não permanente, que em breve será varrida pela força das ondas e da gravidade.
“Os catadores da praia parecem arqueólogos e, se você não falar com eles quando os destroços chegam, a informação se perde”, disse Curtis Ebbesmeyer, oceanógrafo que fundou a maior organização de catadores de praia do mundo.
Em conjunto com o Instituto de Pesquisa Marinha Algalita, Marcus Eriksen, cuja organização de conservação marinha sem fins lucrativos, 5 Gyres Institute, fretou a expedição do Sea Dragon, em junho, disse que o desastre natural chegou em casa. “Quando se vê essa quantidade de destroços atingindo as praias, é difícil não se sentir ligado à tragédia porque, de certa maneira, você a viveu com eles.”
As autoridades japonesas estimam que cerca de 1,5 milhão de toneladas de escombros ainda estão flutuando e itens grandes, como uma doca de concreto e uma motocicleta Harley-Davidson, já chegaram à costa do Oregon e da Colúmbia Britânica. Segundo Ebbesmeyer, a maioria dos restos chegou à costa no mês de outubro.
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