Os eco-chatos
Marina Silva e Fernando Gabeira estiveram na
segunda-feira passada em Porto Alegre palestrando no Fronteiras do
Pensamento. Interessante constatar que aqueles que lá estavam, formando a
plateia do salão de atos da ufrgs, todos ávidos por ouvir a "crème de
la crème" do movimento ambientalista nacional, sequer se manifestam a
respeito dos trágicos acontecimentos que assombram a capital gaúcha.
Nitidamente uma plateia formada por ouvintes (que podem pagar os quase
mil reais pelo passaporte que lhes dá direito ao ciclo de conferências
que acontece ao longo do ano) cujo objetivo maior é mostrar o quanto
estão ou são "IN" na "high society" porto-alegrense.
Poucos dos ali
presentes estavam ou estão verdadeiramente preocupados com as questões
ecológicas e com os rumos da sociedade. Lara Lutzenberger, presidente da
Fundação Gaia, como de costume, linda, loira e de olhos azuis, saiu bem
nas fotos, mas foge dos debates sempre que procurada pela imprensa para
opinar sobre assuntos polêmicos que afetam nosso cotidiano, nossas
vidas e o futuro da cidade.
Foi assim em anos anteriores quando
discutiam-se os impactos do aumento da silvicultura no RS e da
respectiva expansão da indústria de celulose sediada em Guaíba (para
ficar em só um exemplo), empresa à qual está diretamente ligada, e da
qual recebe alguns milhões de reais anualmente em prestação de serviços
por meio de sua empresa, a Vida Produtos e Serviços em Desenvolvimento
Ecológico.
Não questiono a validade e o efeito positivo dos serviços
prestados pela Vida, empresa criada pelo saudoso Lutzenberger. Só penso
que essa parceria de sucesso não deveria mantê-la em silêncio sempre que
se discutem os impactos da silvicutura e da produção de celulose em
nosso estado.
Agora cala-se novamente sobre a derrubada das árvores na
cidade. Como herdeira de um legado de defesa do meio ambiente,
significativo e reconhecido internacionalmente, sua manifestação deveria
ser voluntária, espontânea e sobretudo combativa. Deveria atuar na
linha de frente com as demais ONGs cujo papel têm sido fundamental na
história contemporânea. Lara deveria fazer valer o peso do sobrenome que
carrega, sair pra rua, escrever artigos, procurar a imprensa como fazia
seu pai, manifestar-se publicamente, mesmo correndo o risco de ser
chamada de louca.
Afinal, foi por sua loucura que Lutzenberger passou a
ser uma das figuras mais respeitadas do Estado (e do mundo). E é ela
quem hoje representa a instituição por ele criada. Quando a questão é
polêmica, Lara entra em cena muda e sai calada. Talvez mude de postura
depois dessa crítica, já feita pessoalmente, e agora tornada pública.
Pra finalizar, mais uma consideração. Talvez a mais importante.
O debate
público, as discussões sobre a questão ambiental são fundamentais para a
formação de uma consciência crítica, como mostraram Marina e Gabeira em
sua conferência - obviamente àqueles que realmente prestaram atenção em
suas falas - mas essa "tomada de consciência" de nada vale se não
servir para transformar argumentos e teorizações em ações práticas que
contribuam para inverter os valores distorcidos e, infelizmente,
vigentes, principalmente no cenário político local.
E como diz aquele
velho ditado, cuja autoria não me recordo, "canta tua aldeia, e cantarás
o mundo!"
Me corrijam, caso necessário!
Por Christian Goldschmidt
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