Imagem: Internet
No aniversário de 150 anos do nascimento de Sigmund Freud, Governo do Estado e a Prefeitura Municipal projetam um falo de 100 metros para decorar a revitalização do Cais do Porto de Porto Alegre. Essa poderia ser uma introdução debochada, ao estilo Casseta e Planeta ou Pânico na TV, à apresentação do projeto Cais do Porto, em audiência pública ocorrida ontem, dia 24 de setembro, na Câmara dos Vereadores. Mas não cabe, aqui, qualquer tentativa de tornar risível o que está em jogo, mais uma vez, em nome da “modernização”, do “progresso”, do “desenvolvimento” da capital dos Gaúchos. O assunto é sério. Mais do que isso: é grave.O projeto autoriza, em nome da “revitalização” do Cais Mauá, prédio com a altura de 100 metros (a chaminé do Gasômetro tem 117 metros) na subunidade 2 - docas – ao lado da Rodoviária, quando a altura de 52 metros é o limite máximo definido pelo PDDUA de Porto Alegre. Permite, também, a altura de 32 metros (prédio de 11 andares) na subunidade 5, onde está localizada a Usina do Gasômetro (concorre, portanto, com a própria edificação símbolo dos porto-alegrenses), com aproveitamento de 90% da base, ou seja, somente 10 % livre de construção. Além disso, libera a obrigatoriedade de reserva de áreas para o sistema viário e equipamentos públicos e permite uso misto, comercial e residencial, classificada como Zona Mista 3, cujo objetivo é permitir a instalação de flats no local. As justificativas são a Copa de 2014 e o investimento de R$ 500 milhões dos empreendedores, tal como "um cavalo encilhado que precisa ser montado, pois não passará duas vezes”, nas palavras dos defensores do projeto. Outros celebram a restauração dos armazéns e a criação de 5 mil vagas de estacionamento para acesso à população... “Será o nosso Porto Madero”, grita a bancada do concreto formada pelos vereadores e deputados favoráveis ao projeto.
Para registro, no projeto Pontal do Estaleiro responderam com um sonoro NÃO ao uso misto para construção de espigões nada menos que 80% dos eleitores na Consulta Popular, em uma área PRIVADA. Agora, o Governo do Estado e a Prefeitura Municipal querem permitir construção de espigões em área PÚBLICA, em meio a patrimônios históricos do Cais do Porto, em benefício da iniciativa privada. "Senão eles não investem, porque o projeto não terá retorno financeiro." Ah, entendi: retorno financeiro sobre patrimônio público... Especulação imobiliária mudou de nome. Obviamente, não se trata de ser contra ou a favor da revitalização do Cais Mauá, como sempre pretendem fazer crer os maniqueístas de plantão. Mas a que preço? Por acaso o Cais do Porto está a leilão? “Quem dá mais: 1 milhão para o cavalheiro que projeta dois espigões de 100 metros!” A população será consultada sobre isso? Ou não precisa porque a especulação financeira de áreas públicas (e financiamento de campanhas) já passou o recibo? O poder público virou leiloeiro de luxo de área nobre? "Esse mega-empreendimento vai gerar emprego e renda para os desempregados que moram no centro!", defende o humanista engravatado em nome do projeto. E o Centro Histórico de Porto Alegre, com suas dezenas de prédios abandonados que deveriam ser revitalizados para gerar emprego, renda e moradia para cidadãos de baixa-renda? E o trânsito no centro da capital, estrangulado e sufocado nas vias vicinais e transversais? As principais capitais turísticas do mundo querem desafogar de veículos seus centros e restaurar seus patrimônios culturais, preservando suas identidades históricas, principal ativo turístico dessas cidades. Em Porto Alegre, a Secretaria Municipal de Turismo entrega um documento assinado por 30 entidades ligadas ao trade para manifestar pleno apoio ao projeto de espigões no Cais do Porto.
Será que Freud explica?
João Volino Corrêa
Presidente da AMA - Associação dos Moradores e Amigos da Auxiliadora
Membro da coordenação do Movimento em Defesa da Orla do Rio Guaíba
Integrante do Fórum de Entidades da Câmara Municipal de Porto Alegre
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