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quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Cadê os Guapuruvus da Cavalhada?

Imagem: Guapuruvu - Bairro Bom Fim/POA-Internet
Porto Alegre, 25 de outubro de 2009
Carta aberta ao Prefeito e aos Amigos da Natureza
Quando vim morar no bairro Cavalhada, eles já estavam lá, altaneiros, protetores. Pássaros gorjeavam em seus galhos alegrando a vida; serviam de nicho a inúmeras espécies, e protegiam-nos do calor ao caminharmos pela Avenida Cavalhada e, aos que transitavam de carro, proporcionavam lenitivo. Guapuruvus, últimos resquícios da Mata Atlântica, árvores que nos tornam viva a lembrança de que um dia ela esteve aqui.
E esta semana ao levantar onde estavam sete Guapuruvus, arrancados na calada da noite, deixando sete buracos e hoje, após a noite de chuva de ontem, fáceis de arrancar, nem as raízes restam mais para afirmar que ali havia sete Gapuruvus, que compartilhavam conosco a vida do bairro.
Quem pode ter perpetrado tal crime ambiental? Com que direito interferir na identificação e na vida de uma comunidade?
Hoje os pássaros trinam apavorados pois sua “casa” desapareceu e eles não sabem onde se refugiar. Hoje o bairro não é mais o mesmo pois a alma se constrangeu: da ponta onde termina a Cel. Massot até a Dr. Barcelos sete Guapuruvus não mais lá estão. E a gente se pergunta: o que fizeram para ter tão triste fim? Ou será que foram para locais onde serão mais felizes do que aqui onde o amávamos e o admirávamos com seus braços que se erguiam como num cálice em hino ao criador, oferecendo-lhes flores com suas pétalas amarelas, símbolo da alegria, chamando ao encontro às espécies que aqui se acasalavam. E suas sementes escuras, trazendo em seu interior o presente máximo da espécie envolta numa película delicada e translúcida de madeira, a semente do Guapuruvu, tão conhecida por nossas crianças como o “queima-queima”.
Se as coisas continuam deste jeito em pouco tempo não teremos mais nenhum bairro caracterizado com suas árvores que têm persistido o mais que podem contra o ataque do homem, a quem só bem têm feito. Pensem, se a prefeitura resolvesse retirar os jacarandás da praça da matriz que perda também para o patrimônio público. Pois, assim como defendemos o patrimônio histórico de Porto Alegre, mantendo as características dos prédios que outrora foram, muito mais devemos defender o patrimônio vivo, resguardando os últimos resquícios daquela que é a nossa mãe natureza.
Por favor, senhor prefeito, devolva a identidade de nosso bairro, devolva os nossos sete Guapuruvus! Conserve viva a lembrança daquilo que foi importante um dia para os indígenas e seres que aqui moraram muito antes de nós, conservando as últimas espécies características da Mata Atlântica.
Marilia Nuñes – Partido Verde/POA-RS
Fonte: Blog do Adeli Sell

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