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Apontado como missionário do Nordeste, o religioso, cujo processo de canonização está em andamento, deixou a herança de um cristianismo social, aproximando o povo sertanejo num aprendizado de convivência social, articulando iniciativas e ações que hoje são expressas na construção, em regime de mutirão, de cisternas e mandalas.
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Por isso, os dois missionários da fé são lembrados com romaria, missa e apresentações artísticas no Sítio Caldeirão. A capela branca, que tem como padroeiro Santo Inácio de Loyola, se destaca na paisagem seca e árida. Ao lado da ermida, duas casas, um muro de laje de um velho cemitério, um cruzeiro e, no alto, as ruínas da residência do beato José Lourenço, líder de uma comunidade religiosa que tentou sobreviver às adversidades do tempo e do meio. É o que restou de um paraíso social e religioso que abrigou cerca de dois mil nordestinos que viviam da oração e do trabalho.
A experiência sociocultural de âmbito religioso e popular conduzida pelo beato José Lourenço representou, na época, anos 20 e 30, o rompimento com o regime latifundiário predominante na região. Ainda hoje essa idéia sobrevive, não nos mesmos moldes, mas nas ações que as comunidades de base realizam para relembrar e resgatar os projetos do beato, que chegou ao Cariri atraído pela figura carismática do Padre Cícero.
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O beato José Lourenço foi um dos mais importantes dos seguidores de Padre Cícero. Em uma terra doada pelo religioso caririense quando ainda vivo, o beato José Lourenço, movido por suas crenças religiosas, fundou a Comunidade do Caldeirão. Organizada em moldes socialistas, a comunidade logo atraiu contra si o ódio de todas as forças conservadoras do Nordeste. Era considerada perigosa pelos grandes proprietários de terra e pelo clero do Cariri. Deixava os fazendeiros sem a mão-de-obra barata e podia significar, na grotesca visão dos poderosos, um embrião do comunismo.
Artigo re-editado no tempo, original de Antônio Vicelmo, Sucursal Crato - Edição publicada em 25 de Julho de 2005
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