A CRIMINALIZAÇÃO DAS ELEIÇÕES
Por Claudio Lessa
Convenhamos: o processo eleitoral de um país é o ápice de um ciclo que comemora, respalda, solidifica, constrói, estimula, consagra (e o quê mais?) o sistema democrático. É uma festa, assim como a Copa do Mundo é a festa maior do futebol mundial.
No Brasil, a mediocrização marrom que tomou conta da sociedade atingiu setores importantes do chamado “judiciário”, e o resultado foi o que vemos em 2010: a criminalização das eleições. Tudo é proibido, tudo é censurado, tudo abre a porta para uma punição, tudo é motivo para acabar com a festa da democracia.
Nem mesmo os comediantes podem se aproveitar do período eleitoral para fazer graça à custa dos candidatos, como se o humor dos programas de tevê fosse eivado de algo maligno que demonstrasse algo de profundamente pessoal, destinado a demolir personalidades sem dó nem piedade, com reputações construídas em cima de pilares sólidos.
É claro que, como já disse quem sabe das coisas, nada acontece por acaso.
O processo eleitoral que está em curso tem cartas marcadas, destina-se a consagrar pessoas que, de outra forma, não teriam a menor chance de concorrer – até mesmo porque muitas delas estariam no xilindró, vendo o sol nascer quadrado. Você já imaginou se, como em outros tempos, o poste de Lulla fosse ridicularizado nos programas de tevê? Para alguém determinado a implantar uma “ditadura do proletariado” sem proletariado no fazendão, isso é inadmissível. Eles não ousam fazer isso na Coréia do Norte, como poderiam fazer isso por aqui?
O fazendão já solidificou sua reputação como a terra do “é assim mesmo”, e por isso ninguém vê, ou finge que não vê, ou vê e não dá a mínima para os esquemas verdadeiramente criminosos que bailam diante de nossos olhos dia após dia, como se essa avalanche de iniqüidades possa torná-las aceitáveis, quiçá legais.
Já está meio que cristalizado o incrível fato de que o enganador que ocupa o posto de presidente da república anuncie que fará campanha “depois do expediente” – como se ele não fosse presidente vinte e quatro horas por dia até o fim de seu mandato – e ignore até mesmo a cretinice que ele próprio alardeou, encurtando o seu “expediente”, e absolutamente ninguém se chateie com isso de verdade (saia às ruas, faça passeatas, promova quebra-quebra, faça de alguma forma os envolvidos se sentirem fisicamente ameaçados pela sua conduta, exija para valer um mínimo de respeito pela coisa pública, por exemplo).
Como se não bastasse, o fazendão e seu “judiciário” agora acompanha bovinamente o “presidente que dá expediente” fazendo política de estado em meio a comícios do poste que ele resolveu colocar em seu lugar para continuar disfarçado com um terceiro mandato, desafiando a lei. É só dizer com quem anda o “presidente que dá expediente” e todos nós sabemos quem ele é. Sem contar os amiguinhos mensaleiros e assessores Top Top de linha, a malta inclui ainda o chefete venezuelano don Huguito, seu mentor cubano (“El Coma Andante”), o boliviano marido de Adã, o debilóide irrelevante equatoriano do qual ninguém lembra o nome e, last but not least, o zarolhinho iraniano Nejadinho – aquele que prende, arrebenta e joga pedra.
Pois foi durante um comício com o poste a seu lado, esta semana, que o “presidente que dá expediente” – e supostamente estava fora dele – anunciou uma política de estado, a de oferecer ao zarolhinho iraniano que despache a Geni que está na rua da amargura lá do outro lado do mundo, pronta para levar pedrada, para os suaves trópicos.
Em países sérios (não é, Messieur De Gaulle?), uma figurinha dessas já estava destituída sumariamente do cargo. Mas não aqui. Aqui é o fazendão, é a terra do “é assim mesmo”, é a terra das multas sem fim. Judiciário aqui só existe, em boa medida, para justificar a construção de belíssimos (e caríssimos) edifícios e para botar (e manter) na cadeia preto, prostituta e pobre. Ah!, já ia me esquecendo: e agora, também, para tascar uma mordaça e acabar com a festa eleitoral.
Fonte: Via e-mail/Direto da Redação
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