Rússia é acusada de ocultar efeitos da onda de calor e incêndios
Médicos de Moscou dizem estar temerosos de dar diagnósticos relacionados a doenças provocadas pela onda de calor ou pela fumaça causada pelos incêndios e perderem seus empregos por isso, numa alusão à antiga tradição da Rússia de acobertar o impacto de desastres.
Muitos russos criticaram a reação lenta do governo aos incêndios florestais que estão assolando parte da Rússia e deixaram uma nuvem de fumaça nociva que vem sufocando a capital há vários dias.
A oposição acusou as autoridades de estar em processo de negação dos acontecimentos.
O poderoso prefeito de Moscou, Yuri Luzhkov, que tem se mantido especialmente silencioso durante a crise, decidiu voltar de férias no domingo "por causa da evolução da situação na cidade, devido aos incêndios", segundo informaram as agências de notícias, citando uma declaração do seu porta-voz.
Os incêndios causados pela maior onda de calor desde que começaram os registros do tempo, há 130 anos, já deixaram milhares de desabrigados e levaram as autoridades a sugerirem que as pessoas evitem sair de casa em Moscou, onde voos foram desviados e os moradores usavam máscaras cirúrgicas.
O Ministério de Emergências disse no domingo que os incêndios florestais da região de Moscou triplicaram desde sexta-feira, atingindo 210 hectares.
Respondendo ao pedido de ajuda de Moscou, a França ofereceu 120 homens, 37 veículos, 15 bombas a motor e um avião bombardeiro DASH com água. Um médico que não quis ser identificado, de uma clínica de Moscou, escreveu no seu site que os corpos dos mortos por insolação e doenças relacionadas à fumaça nos últimos dias estavam se acumulando no porão, já que "as geladeiras estão cheias", deixando um "fedor de putrefação".
Ele disse também que a situação era a mesma nos hospitais de toda Moscou. "(Mas) não podemos dar esse diagnóstico - não queremos ser demitidos. Temos famílias para alimentar", afirmou ele no site, em comentários que foram reproduzidos em diversos meios de comunicação no domingo.
Ele acrescentou que se um estado de emergência fosse declarado em Moscou como em outras regiões, os médicos teriam que ser pagos em dobro.
Outro médico de um grande hospital, falando anonimamente, disse à Reuters que os funcionários haviam sido instruídos a não ligar as doenças dos pacientes à onda de calor.
Um porta-voz do governo da cidade de Moscou se recusou a comentar as declarações dos médicos.
Fonte: REUTERS, EM MOSCOU
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