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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Todos a favor da Preservação do Butiazal

Todos a favor da Preservação do Butiazal de Tapes
A Audiência Pública do Ministério Público do Estado, realizada em Tapes/RS ontem (24/01), mostra que a 'democracia', entendida sob diversas óticas, foi o ápice do momento vivido, naquelas horas em que todos são favoráveis a criação de uma reserva, que venha ao encontro dos anseios dos ambientalistas e dos proprietários e utilizadores dos recursos naturais na região em questão, que se estende pela zona costeira interna da laguna dos patos, entre Tapes e Barra do Ribeiro. Alegam que já "preservam a área" até mesmo pela existência da floresta e abundância de espécies que tem a região como habitat.
Em parte, podemos concordar com tal afirmativa, visto os estudos comprovarem, além da existência de mais de 50 espécies ameaçadas de extinção, apresentarem também os  impactos ambientais localizados dentro dos locais consideradas Áreas Prioritárias para Conservação e Uso Sustentável dos recursos naturais, em grau máximo, Extremamente Alta, podendo ser atestada a existência de plantações de eucaliptos, que inclusive cortam e criam barreiras no corredor ecológico que liga os butiazais e matas nativas, as lagoas suja, comprida e do cerro.
Após a apresentação das informações consideradas pelo Ministério Público do Estado como relevantes em relação ao objeto do IC nº 01346.00001/2011 que trata desta questão da preservação dos Butiazais entre Barra do Ribeiro e Tapes, solicitadas em 2005 pelo Juiz de Direito daquela comarca, após ser veiculada em Zero Hora as informações da descoberta da área e apontando fatores legais para que fosse instaurado pelo Promotor local, um Inquérito Civil n° 00721.00028/2005 que demandada pelo Promotor de Justiça Daniel Soares Indrusiak, "tem a finalidade de proteger as espécies nativas da fauna e da flora do risco de extinção, em área de aproximadamente 800 hectares, localizada na divisa dos Municípios de Barra do Ribeiro e Tapes, à beira da Lagoa dos Patos, denominada Butiazal de Tapes".
FZB/RS presente
Segundo o profissional do Estado, representando a FZB/RS, Ricardo Aranha e um dos autores do trabalho RS Biodiversidade - Lagoa do Casamento e Butiazais de Tapes, o mesmo aponta diversas situações e provas de que a região deve ser conservada, por motivos que apontam a dimensão do valor ecológico ali existente. Além do que, segundo ele "a área tem aptidão para este objetivo, a constituição de uma Unidade de Conservação", quando considera existir de parte da FZB/RS uma ideia/sugestão pela criação de uma APA (Área de Proteção Ambiental).
Segundo os estudos 'este é o maior fragmento da floresta, que se estendeu por centenas de quilômetros a partir da Cocheira das Lombas, ponto focal do trabalho. Foi apontada a existência de 800 hectares de matas de butiá ainda intocadas, num espaço contínuo, um dos maiores e mais preservados, com o butiá sendo a “espécie chave na cadeia alimentar da fauna” - segundo Ricardo Aranha, da FZB/RS.
A falta dos demais órgãos executores das políticas públicas de conservação e proteção ao meio ambiente, e competentes para discutir a criação de unidades de conservação, prejudicou na elucidação e no conhecimento de maiores dados sobre limites, dimensão, localizações, mapas, dados provinientes de orgãos como a Divisão de Unidades de Conservação do DEFAP/FEPAM, da Sema e o Projeto RS Biodiversidade, que está aplicando recursos em pesquisas direcionadas a proteção de importantes áreas do Bioma Pampa, incluindo projetos já desenvolvidos pela EMATER em conjunto ao Projeto RSBiodiversidade, visando o uso sustentável dos benefícios ambientais da região dos butiazais. (veja vídeo aqui).
Prefeito aponta números 
O Prefeito Municipal, Silvio Rafaeli, por sua vez, discorreu sobre os impactos financeiros que poderão causar se áreas hoje ocupadas por plantações e lavouras de eucaliptos e arroz, criações de gado forem tornadas reservas.
A estimativa dele é de que 20% do município serão cedidos à preservação, que gira em torno de 142 km², em área onde existem produções agrícolas, onde apresentou números deste segmento que gera impostos para cidade.
Nesta região, há grande quantidade de arrendatários de terras, plantadores de arroz que ocupam áreas do pequeno número de proprietários e produzem matérias primas da celulose e arroz, atualmente com plantações de soja ocupando partes das terras.
Um fato interessante é a afirmação de que 50% da população hoje cooperam com a separação do lixo que está sendo enviado para a usina de Triagem, mesmo que não exista campanha de educação para reciclagem e coleta seletiva implantada na cidade.
A coleta feita pelas carroças ajuda no processo de segregação dos resíduos, pois o lixo não fica danificado, como quando coletados por caminhão-basculante. Um avanço na consciência ambiental da população.
O Prefeito Municipal trouxe consigo, um vídeo de uma entrevista na Fazenda São Miguel, de propriedade de Nair Heller, onde ela conta com muita emoção, a importância do Butiazal, considerando a área um 'santuário de Deus'. (veja o vídeo aqui)
Dona Nair trabalha há mais de 60 anos ao lado do esposo e dos filhos. A parte mais importante da fazenda é o butiazal, distribuído em mais de 800 hectares.
Nas falas dos presentes, a concordância da necessidade de proteger e conservar as 'áreas já protegidas pelas leis em vigor', ficou nítido que ninguém se opõe a criação de Unidade de Conservação, seja APA, seja ReBIO, seja UC sustentável.
Os ambientalistas entregaram documento assinado por mais de 100 pessoas, protocolado aos autos do IC do MPE/RS, com uma série de considerações sobre a necessidade de criação de uma UC, para que se estabeleçam as condições de conservação, aproveitamento sustentável e promoção de políticas de incentivo para pesquisas nas áreas importantes e necessárias a preservação. (leia o documento aqui)
Os presentes, na sua maioria de proprietários, familiares e, arrendatários, empregados das empresas de eucaliptos e arroz, constituíam a plateia que se mostrou compreensiva aos apelos pela conservação, aceitando-a como ponto pacífico, mas preocupados com a inexistência de mapas e da pouca informação sobre os reais limites das áreas à serem conservadas.
De encaminhamento, o MPE/RS propôs fosse criada uma Comissão composta pelos ruralistas, ambientalistas, órgãos de apoio nas pesquisas locais para uma próxima reunião à ser realizada em março, com objetivo de nortear uma proposta que possa transformar a questão considerada 'prejudicial' em algo que possa trazer 'benefícios' para todos.
As questões da preservação dos butiazais e seu uso sustentável ainda terão outras edições, visto tramitar na União e Estado ações que visam o mesmo intento, a criação de uma Unidade de Conservação.
Imagem topo: Antônio Soler-CEA
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Fonte: REDE Os Verdes/via e-mail

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