Lagoa das Furnas está melhor, mas qualidade da água vai continuar má durante anos
A beleza da segunda maior bacia hidrográfica dos Açores esconde problemas ambientais
Por Carlos Pessoa
Eutrofização causada pela acumulação de matéria orgânica no fundo é o problema maior. O fim das pastagens e a retirada do gado da zona fez baixar os níveis de azoto e fósforo.
A estrada ladeada por árvores frondosas abre subitamente sobre a lagoa das Furnas. Segue-se uma longa recta mesmo encostada à margem, rumo à localidade famosa pelo seu cozido, permitindo a visão das águas, da massa florestal que a rodeia e do inconfundível perfil da Ermida de Nossa Senhora das Vitórias. A beleza natural envolvente é poderosa, escondendo do visitante menos informado os sérios problemas que afectam os 12,5 quilómetros quadrados da bacia hidrográfica desta lagoa (1400 hectares). É a segunda maior dos Açores e o seu estado ecológico é considerado mau.
O principal responsável pela degradação da qualidade das águas é o processo de eutrofização causado pela acumulação de matéria orgânica no fundo e a correspondente diminuição do volume de água. A actividade agro-pecuária no interior da bacia foi há muito identificada como o grande agente desse fenómeno. Miguel Ferreira, engenheiro florestal e responsável pela gestão do plano de bacia da lagoa das Furnas, chegou em 2007 e começou a trabalhar praticamente sozinho. "Os grandes problemas eram a exploração agro-pecuária, as áreas de pastagens e a erosão dos solos, tudo contribuindo para que a profundidade da lagoa tenha passado de 20 para 15 metros", disse ao PÚBLICO.
A longo prazo, há o risco de os lagos evoluírem para pântanos, mas o responsável lembra que esse processo, sendo muito lento, pode ser contrariado. A prova disso é a aprovação, ainda em 2007, do Plano de Ordenamento da Bacia Hidrográfica da Lagoa das Furnas, concretizado pela SPRAçores, uma empresa pública regional de promoção e gestão ambiental criada em 2006 e recentemente integrada na Azorina, outra sociedade anónima de capitais públicos regionais.
O objectivo essencial é, explica Miguel Ferreira, "recuperar a qualidade da água". Para o conseguir têm sido desenvolvidas desde 2008 diversas acções integradas. Assim, metade dos terrenos agrícolas que constituíam o maior risco de escorrência de nutrientes para a lagoa - basicamente, utilizados em agro-pecuária intensiva - foi adquirida pelo Governo dos Açores. Em seguida, teve início a alteração das utilizações tradicionais dos solos, com o combate a espécies infestantes mais comuns, como o silvado, a conteira ou o incenso.
Durante quase um ano, recorda o gestor, foram também removidos da lagoa toneladas de resíduos poluentes - pneus, plásticos de silagens, embalagens, arames farpados, ferro velho e até viaturas - para ali lançados durante décadas.
Leia mais em PUBLICO
Nenhum comentário:
Postar um comentário