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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Vada a bordo, cazzo!

Vada a bordo, cazzo! 
Montserrat Martins 
É a camiseta do momento na Itália: Vada a bordo, cazzo! Frase que o capitão da guarda costeira, De Falco, gritou para o capitão que abandonava o navio, Schettino, num diálogo de quatro minutos por rádio que veio à tona dias depois. Mexeu com os brios nacionais um capitão italiano descumprir o ditame de que “o capitão é o último a abandonar o navio”. A frase imperativa de De Falco redimiu, para a imprensa e para o público, o comportamento esperado de um capitão, que Schettino desonrara. Ordem enérgica, pois a palavra italiana que De Falco usou, "cazzo', é uma gíria local para o órgão sexual masculino, usada corriqueiramente na Itália para enfatizar alguma coisa, assim como o “fuck you” comum entre os americanos. 
“Vada a bordo, cazzo!” é sensacional para uma camiseta. Mexe com os brios mesmo, chama à responsabilidade, desperta um sentimento unânime de exigir a conduta digna que se espera de uma autoridade. Podia ser usada – e espero que seja – para outras coisas também, quando alguém não cumpre o seu papel, sua responsabilidade pública. 
A prefeitura não reabre o Hospital Independência, o governo do Estado não paga o piso nacional dos professores, as verbas federais para socorro à seca estão emperradas na burocracia? Vada a bordo, cazzo! Pois a transferência de responsabilidades é justamente a maior disfunção em todos os níveis de governo, problema cultural enraizado no país, tendo os políticos se especializado em arrumar culpados para os problemas crônicos.
O prefeito de Porto Alegre culpa os médicos, o governador acha que o Cpers não sabe dialogar, o governo federal passa a mão na cabeça do ministro que privilegiou o seu Estado na distribuição de verbas. Tá bom, não existe governo perfeito, mas que tal cada autoridade começar a assumir as responsabilidades da sua gestão? Não importa quem escreveu aquele trecho do discurso da Presidenta, se ela própria ou um assessor, em que o governo federal assume que a saúde tem de melhorar: o que importa é a postura de assumir a responsabilidade, o que lembro de ter registrado na época como um fato positivo, de um tipo raro de atitude. 
Sem hipocrisias, não se trata só dos governos, a própria sociedade civil tem o seu papel a cumprir. Todos querem que diminuam os acidentes de trânsito, é claro, desde que não se perca o direito de se divertir e tomar umas quando se para no caminho, basta ver a indignação popular com a “lei seca”. 
Só cerca de 10% dos produtores rurais cumprem a legislação ambiental, então qual é a solução proposta? Em vez de se passar a cumprir, “flexibilizem-se” as leis. Vada a bordo, Rebelo! Um cartum do Iotti publicado dias atrás diz tudo, um gaúcho num ambiente desertificado (cercado de árvores cortadas) constata a seca no Estado e pergunta “porque??”. E com todos os problemas climáticos previstos, cujas causas não prevenimos, também não nos preparamos para suas consequências, para os períodos de estiagem, como os egípcios já faziam há alguns milhares de anos atrás. 
Quer dizer, nem é preciso entrar no assunto dos políticos que elegemos sem acompanhar o que fazem com os mandatos – e depois nos queixamos de sua corrupção – para mostrar que somos todos responsáveis pelo que está aí. “Vada a bordo, cazzo!” pra todo mundo!
Fonte: REDE Os Verdes/via e-mail

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