Cartilha em defesa do rio Tapajós, seus povos e suas culturas.
Uma resposta à Folha de S. Paulo
"A Folha de S. Paulo tem direito de veicular o que bem entender, mas foi injusta conosco", escreve Edilberto Sena, padre, membro da Frente em defesa da Amazônia em Santarém do Pará e coordenador da Rádio Rural AM de Santarém-PA.
"Defender a vida e a Amazônia não é crime" é o título do artigo que Edilberto Sena, citado na reportagem da Folha de S. Paulo, enviou para o jornal e que publicamos a seguir.
"Defender a vida e a Amazônia não é crime" é o título do artigo que Edilberto Sena, citado na reportagem da Folha de S. Paulo, enviou para o jornal e que publicamos a seguir.
Eis o texto.
Defender a vida e a Amazônia não é crime
No tempo da escravidão legalizada, o senhor da Casa Grande detinha o poder total sobre os escravos. As leis e a moral católica da época lhe davam direito de vida e morte sobre os que viviam na Senzala.
O tempo passou, a senzala foi extinta, mas para muitos patrões, grandes e pequenos, quem se rebela contra a atual escravidão social, política e econômica, é considerado criminoso (a), subversivo(a), etc e deve ser punido(a), ainda mais se for contra o governo federal.
O tempo passou, a senzala foi extinta, mas para muitos patrões, grandes e pequenos, quem se rebela contra a atual escravidão social, política e econômica, é considerado criminoso (a), subversivo(a), etc e deve ser punido(a), ainda mais se for contra o governo federal.
Nestes novos tempos uma das senzalas é a Amazônia e algumas das casas grandes incluem o palácio do planalto, governos estaduais, além de empresários com mentalidade colônia. Qualquer atitude de inconformismo de trabalhadores, ribeirinhos, indígenas, ou moradores de periferia e do movimento dos sem terra, o MST, é logo considerada insubordinação à ordem democrática, incitação ao crime e deve ser exemplarmente punida.
O governo federal, através de seus Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC decidiu arbitrariamente construir 10 mega hidroelétricas na Amazônia. Sete delas no Estado do Pará.
Não consultou as populações da região a serem prejudicadas por tais projetos, não leva em conta os grandes impactos negativos ao meio ambiente, à fauna e à flora das bacias dos rios Xingu e Tapajós; sabe que irá interferir no habitat dos povos indígenas Kaiapó, Munduruku, Juruna e mais outros 14 povos indígenas das duas bacias hidrográficas. Simplesmente segue os planos montados pelo Ministério de minas e Energia, com aval da ANEEL e do IBAMA, órgãos subalternos e subservientes.
Não consultou as populações da região a serem prejudicadas por tais projetos, não leva em conta os grandes impactos negativos ao meio ambiente, à fauna e à flora das bacias dos rios Xingu e Tapajós; sabe que irá interferir no habitat dos povos indígenas Kaiapó, Munduruku, Juruna e mais outros 14 povos indígenas das duas bacias hidrográficas. Simplesmente segue os planos montados pelo Ministério de minas e Energia, com aval da ANEEL e do IBAMA, órgãos subalternos e subservientes.
O governo federal decidiu construir cinco mega hidroelétricas nos rios Tapajós e Jamanxin. A propaganda da Eletronorte é de que serão usinas modernas, com mínimos impactos ambientais, porque utilizarão um novo modelo em forma de plataforma. Considera um projeto com mínimos impactos, quando os dados oferecidos pela própria empresa afirmam que: serão atingidos 105.590 hectares de inundação em áreas protegidas, inclusive 9.935 hectares do Parque Nacional da Amazônia; o total de 55 kms2 de área Munduruku serão também inundadas. Sem contar as centenas de famílias ribeirinhas de Jacareacanga, Pimental, São Luiz do Tapajós, Piriquitos, Vila Rayol, que deverão ser expulsas de suas comunidades, indenizadas precariamente, perdendo seu rio, seus cemitérios, seu modo de vida que depende do rio e da mata.
Nada disso parece crime para o governo e para os senhores das “casas grandes”.
Nada disso parece crime para o governo e para os senhores das “casas grandes”.
Nem Santarém ficará imune ao desastre das hidroelétricas na bacia do Tapajós. Como o rio é raso, no verão o rio Amazonas avança em frente a cidade de Santarém, indo além das Docas do Pará, como ilustra a foto na página 21 da cartilha “subversiva”. Imagine se o governo chegar a construir já a primeira barragem de 36 metro de altura na comunidade de São Luiz, quem garante que o Amazonas não avançará até as cantadas em versos e prosa as praias de Alter do Chão, Pindobal, Maguari e demais? Não será isso mais um crime econômico e turístico? E a violência às espécies de peixes de piracema, que normalmente migram para as cabeceiras do rio Tapajós para desova e depois descem com seus filhotes para serem pescados nas várzeas e lagos do Baixo Amazonas, que com as barragens poderão desaparecer da região, não são esses impactos crimes contra as populações tapajônicas?
Por que então uma cartilha reveladora desses fatos aparece como incitadora à violência?
Quem mesmo está planejando violência e crimes, não é a Eletronorte, a ANEEL, o IBAMA, o Ministério de Minas e Energia?
“Depende”, dirá alguém. Para os senhores da “Casa Grande” o criminoso foi Zumbi dos Palmares e para os portugueses da época da colônia, criminoso foi Ajuricaba, que resistiu até a morte à invasão de Manaus. Certamente quem ler a CARTILHA EM DEFESA DA BACIA DO RIO TAPAJÓS, seus povos e suas culturas, com olhar mais isento perceberá quem mesmo comete crime e incita á violência.
Finalmente, se um ladrão entra em sua casa e quer roubar você acorda defende sua propriedade e ele morre.
Quem cometeu o crime?
Fonte: IHU - Instituto Humanitas Unisinos
Link: http://www.unisinos.br/_ihu/
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