
Ecochatos e agrochatos

A argumentação dos meus oponentes tem a sofisticação de sempre: eu sou um ignorante, um preconceituoso, falo por ouvir dizer, deveria juntar eu mesmo o meu cocô para ajudar a resolver os problemas ambientais, etc, etc. Nunca um criticado me chamou de inteligente. Jamais um criticado meu deu razão. Pois, como sempre, eu li o projeto que altera o código florestal e tudo sobre ele. Faz parte dos meus hábitos. Gosto de estar armado até os dentes. Todas as contestações que me foram enviadas estão disponíveis em meu blog.
O novo ângulo de ataque, ou de defesa, dos ruralistas é simples (ou simplório?): quem polui é a cidade. O campo só quer “produzir com dignidade”. É o jargão em voga. Imagino que todos os ambientalistas sejam ignorantes como eu. Tenho citado alguns especialistas cuja argumentação me impressiona, como o professor Paulo Brack, do Instituto de Biociência da Ufrgs.
Deve ser um preconceituoso sem par. Outro dia, ouvi a argumentação do promotor Júlio de Almeida, do Ministério Público Estadual. Deve ser outro ignorante. As posições desse pessoal me parecem interessantes, mas, como sempre, penso por conta própria. Li e reli o conteúdo das mudanças.

Desconheço pessoas mais ideológicas do que os ruralistas. Eles acham, porém, que são neutros, imparciais, isentos e técnicos. Uau!
Alguns ficaram indignados por eu ter chamado ruralistas de agrochatos e de atrasados. Como se diz popularmente, nos olhos dos outros é colírio. Volta e meia, ouço de um ruralista a expressão ecochato ou a designação dos ambientalistas como esquerdistas atrasados. O vereador Beto Moesch (PP), severo crítico das mudanças do código florestal, é um esquerdista atrasado, um direitista anacrônico ou um ecochato? Ou mais um preconceituoso e ignorante que não entende os seus amigos nem a maioria dos integrantes do seu partido? Depois dessa polêmica, aprendi muito: nossos ruralistas são ecologista na cidade. Fazem tudo para proteger a natureza e acabam injustiçados por idiotas como eu.
Hoje, quem coloca a produção acima da defesa do meio ambiente, pratica um reducionismo. Quem defende que a natureza permaneça intocada em detrimento da produção de alimentos, também pratica um reducionismo. O Código Florestal em vigor, no entanto, está bem longe de querer manter a natureza intocada. As Áreas de Preservação Permanente, por exemplo, que alguns desejam extinguir, representam um ponto de equilíbrio. Nada mais. Diminuem a área de produção? Obviamente. Aumentam o espaço de preservação. Vou me atrever a dar uma sugestão aos meus oponentes: arranjem novos argumentos.
A simples desqualificação como ignorante é argumento muito fraco.
Por Juremir Machado
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