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sábado, 26 de fevereiro de 2011

Os arrozeiros queimados por Geraldo Hasse


Os arrozeiros queimados
Ouve-se que a maioria dos orizicultores está endividada. A divida rural brasileira passa de R$ 200 bilhões. Cresce o zunzum de que no meio do ano o endividamento se tornará grande bochincho, na forma de problemas econômicos-financeiros e de chantagem política associada à luta pela conversão do Código Florestal em Código Ambiental 
Por Geraldo Hasse 
Estamos entrando na safra de arroz no Rio Grande do Sul, onde o ministro Wagner Rossi precisou dar uma bombeiro, oferecendo R$ 300 milhões para os produtores iniciarem a venda de uma safra que promete ser recorde. Às vésperas da colheita, o preço da saca de arroz com casca caiu para R$ 22, menos do que o preço mínimo (R$ 24,50), rebaixado pela promessa de supersafra e pelas importações dos vizinhos do Mercosul.
Não fale “mercosul” perto de um agricultor gaúcho. Arrozeiros, vinhateiros, sojeiros e triticultores vivem se queixando das facilidades oferecidas pelo Mercosul a quem importa produtos da Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai. Na fila de espera para entrar no bloco estão a Bolívia, a Colômbia e a Venezuela, país que sempre esteve de costas para o Brasil, preferindo ter como parceiros preferenciais os EUA. 
O drama da lavoura arrozeira é um emblema da crise agrícola que se arrasta nos bastidores do boom da economia urbana. Assim como o frango foi a âncora verde do Plano Real, no final do século XX, o arroz forra pf’s, comerciais, alaminutas e bufês oferecidos a milhões de brasileiros. A R$ 1,50 por quilo, o arroz descascado é uma das bases da estabilidade alimentar do país. 
Entretanto, ouve-se dizer, a maioria dos orizicultores está endividada. A divida rural brasileira passa de R$ 200 bilhões. Na moita, cresce o zunzum de que lá pelo meio do ano, provavelmente, o endividamento rural resultará num grande bochincho, que virá não só por problemas econômicos-financeiros, mas como chantagem política associada à luta pela conversão do Código Florestal em Código Ambiental. Quem viver verá. 
“Ao ler que serão viabilizadas linhas para compra de terras, penso: quem está pleiteando comprar terra para plantar arroz se praticamente todo o setor está comprometido em dívidas?”, escreveu o arrozeiro Fernando Loppa num artigo publicado no inicio do ano. Loppa é líder em Alegrete, um dos principais polos arrozeiros do Rio Grande do Sul. 
Convencido de que “a orizicultura está entrando numa crise sem precedentes”, Loppa lembrou que não é fácil exportar arroz para outros países, como sugerem alguns observadores. Segundo ele, apenas 6% da produção mundial de arroz são comercializados internacionalmente. Ou, seja, grande parte da produção é para a alimentação das populações internas. 
Além disso, é preciso lembrar situações peculiares como a vivida por arrozeiros gaúchos que plantam também no Uruguai a custos menores do que no Rio Grande do Sul ou Santa Catarina. Nas lavouras “hermanas” são usados produtos químicos que custam três vezes menos. Com o câmbio desfavorável aos brasileiros, é mais fácil importar o arroz uruguaio do que exportar o arroz brasileiro para qualquer outro país. O Brasil exporta arroz quebrado (quirera), mas o grosso da produção, constituído por arroz longo (agulha), fica dentro do país, formando uma superoferta que cresce a cada nova safra, como acontece a partir das próximas semanas.
Fonte: Amigos de Pelotas
   

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