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terça-feira, 26 de abril de 2011

Ecologia e eixo cognitivo

 Ecologia e eixo cognitivo
Por Tomislav R. Femenick 
Rios foram transformados em cloacas a céu aberto e em vertentes de agrotóxicos. Florestas são devastadas e viram campos desnudos de flora, onde os animais silvestres estão ausentes. Mares e oceanos são transformados em depósitos de lixo. Lagos que secam, pelo consumo descontrolado das águas que os alimentam. O ar que se respira em certas cidades está carregado de elementos danosos à saúde. Isso não é catastrofismo de ambientalista. Este é o cenário do planeta, neste século XXI. O canal do Manque no Rio de Janeiro, os rio Tietê e Pinheiros, em São Paulo, Beberibe e Capibaribe, no Recife, e Pium e Potengi, em Natal, são alguns exemplo da mutação de cursos de água em esgotos. O Brasil é campeão mundial em desmatamento de florestas. A Baia da Guanabara recebe diariamente toneladas de excrementos e detritos domésticos ou industriais, ali jogados irresponsavelmente.
No meado dos anos oitentas, estive na região centro-ocidental do continente africano. É uma região extremamente seca e de altas temperaturas, onde o Lago Chade destoa pela sua grandeza. É a únicas fontes de água potável e tão importante que é ponto de encontro das fronteiras de quatro países: Chade, Camarão, Nigéria e Níger. Mas o lago está morrendo. 
Originalmente com cerca de 350 mil quilômetros quadrados, em 1963 tinha 25 mil e hoje tem apenas dois mil. Essa redução é ocasionada por uma enorme redução da quantidade de chuvas nas últimas décadas e o aumento da demanda de água para abastecimento da população e para irrigação. O mesmo problema atinge o Mar Morto, que já perdeu um terço da sua superfície, pelo desvio das águas do Rio Jordão, seu maior vertedouro de água – 60% por Israel, e o restante por represamentos da Síria e da Jordânia. 
Em todo o mundo a urbanização da população e o desenvolvimento industrial vêm ocasionando um aumento crescente da emissão de poluentes atmosféricos. Cidades como São Paulo, Belo Horizonte e México são exemplos típicos desse fenômeno. Nelas o ar que se respira é um dos piores do mundo. Essa poluição atmosférica afeta a saúde de milhões de pessoas, transformando-as em vítimas de doenças respiratórias como a bronquite, rinite e asma. 
Quando o governo dos EUA abandonou o acordo de Kyoto (que estabelecia prazo para reduzir as causas do aquecimento global), ativistas ambientais justamente se indignaram. 
Para uns tudo estava claro: os interesses do mundo capitalista eram causas e efeitos dos desastres ambientais. Essa posição norte-americana levou grande número de ambientalista a se posicionar ideologicamente, apontando o furor destrutivo do planeta como resultado da ganância capitalista. Será que é bem assim? Londres, quando foi o centro do mundo capitalista e capital do Império Britânico, era também o exemplo marcado da poliação, com a putrefação do Tamisa e o seu célebre fog, um nevoeiro espesso carregado de fuligem. Hoje, Londres e o capitalismo são outros. Tanto os governos dos países capitalistas como as grandes corporações mais conscientes, lutam contra o custo da depredação da natureza. Londres voltou a ser exemplo e hoje é referencia pela recuperação da pureza das águas do seu rio e pela quase ausência de poluição atmosférica. 
O mundo socialista também teve seus pecados ambientais. Uma das maiores obras da finada União Soviética foi a construção do Canal Volga-Don, ligando o Rio Volga ao Rio Dom. O problema é que o governo soviético não levou em conta que o Mar Cáspio (o maior lago no mundo, chamado de mar por causa do seu tamanho) e o rio Volga compõem um mesmo sistema ecológico. Consequência: entre 1930 e 1978, o nível das águas do Mar Cáspio apresentou uma diminuição contínuada, resultado da diminuição do fluxo de água vinda dos rios que ali têm sua foz, principalmente do Volga.
Marx, não é o Mao!
A China de Mao Tsé-tung tem direito a carro alegórico e destaque. Em 1958, o “grande timoneiro” lançou um projeto ambicioso: o “Grande Salto para a Frente”. Os camponeses foram obrigados a se agrupar em gigantescas comunas agrárias e até as aldeias tiveram que construir pequenos fornos siderúrgicos, para aproveitar restos de metal. A consequência foi a desorganização da economia chinesa, o que causou a morte, pela fome, de 20 a 40 milhões de chineses, até 1962. Estima-se que foi “a pior fome da história”, acompanhada de ondas de canibalismo e de campanhas de terror contra camponeses acusados de esconder comida. O “grande salto” provocou devastação de grandes áreas florestais, poluição em aldeias e vilas e contaminação dos rios.
Ambientalista de esquerda ou de direita é balela. Nas questões ecológicas, as posições políticas tradicionais perdem terreno e se transformam em projeções pessoais, desprovidas de bases e eixo cognitivos. 
*É historiador e mestre em Economia

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