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sábado, 11 de dezembro de 2010

Antes que os sinos dobrem

Em 1989, Márcio Linck à beira do Rio dos Sinos, em meio a uma mortandade de peixes
Antes que os sinos dobrem
Enquanto boa parte da população se encontra envolvida nos compromissos de final de ano, que incluem trabalho, festas e até mesmo decisões futebolísticas, um novo drama ambiental transcorre no Rio Grande do Sul, tendo como principal personagem um manancial hídrico que cruza pela região. É o Rio dos Sinos, que, segundo notícias divulgadas pela imprensa estadual nas últimas semanas, vem ostentando um novo quadro de poluição aguda, resultando na morte de milhares de peixes e comprometendo seriamente a qualidade da água que abastece os moradores de várias cidades. 
Escondido pelas barrancas ou camuflado pela vegetação ribeirinha, que não é tão abundante assim, o rio vive sua agonia quase que em silêncio, como que seguindo uma marcha cujo desfecho se sabe bem próximo. Na verdade, não fosse o cheiro desagradável e putrefato que sai de suas águas, não fossem as imagens chocantes de um líquido preto e viscoso que agora começa a contaminar mananciais maiores, talvez poucos dessem conta da gravidade da situação. É que os peixes também já começaram a morrer nos seus desaguadouros imediatos, o Jacuí e Guaíba, o que dá bem uma ideia das proporções do estrago, segundo matérias veiculadas nos últimos dias em jornais e sites na internet. 
Tem-se que a escassez de chuvas, provocando a diminuição do nível d’água, seja um dos motivos para justificar a nova crise do rio moribundo. E, em outubro de 2006, quando aconteceu o histórico desastre da mortandade de toneladas de peixes, atribuiu-se à poluição industrial a principal causa para o chocante fenômeno. Pois, o vilão da vez, segundo se sabe, seria a imensa quantidade de esgoto cloacal despejada diariamente, para não dizer a toda hora e a todo minuto, sem qualquer tratamento nas águas do rio. 
No que diz respeito a essa última questão, a totalidade das seis cidades do Vale do Paranhana – e seus moradores – vêm dando uma razoável cota de contribuição, porquanto são banhadas pelo próprio Sinos ou afluentes direto dele, a começar por aquele que dá o nome à região.
Resta saber o quanto essa situação realmente preocupa, se não aos habitantes, pelo menos aos mandatários municipais, por virem a ser, provavelmente, os principais demandados pelas cobranças que virão. E já está bem claro que, se não for pela consciência, a salvação do Sinos, terá que vir pela mão pesada da multa, da sanção, da pena criminal, se for o caso, seja o produtor do esgoto doméstico ou industrial. E ela não poderá tardar, antes que os sinos dobrem, anunciando a morte definitiva do rio.
 
Editorial: Jornal Panorama

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