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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Quem irá pagar os riscos da energia nuclear? por Felipe Amaral

Imagens: Internet
Quem irá pagar pelos riscos da energia nuclear?
Por Felipe Amaral/ONG Biofilia
O Brasil pretende ser uma potência nuclear. Não estou me referindo ao enriquecimento de urânio para construção de dispositivos bélicos, mas da intenção de termos, na matriz energética nacional, fontes nucleares de energia. Quando o então secretário de Desenvolvimento e Planejamento do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimermmann, durante o 19º Fórum de Altos Estudos, realizado em 2007 na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), afirmou que “a energia proveniente de fontes nucleares é uma realidade na matriz energética brasileira e o país precisará de quatro a oito novas usinas atômicas para poder suprir o crescimento da demanda por energia até 2030”, ele estava na realidade impondo um raciocínio a partir de uma intenção governamental de crescimento econômico exponencial, lógica que prevaleceu no executivo.
Muita coisa mudou de lá para cá, mas a lógica desenvolvimentista do Executivo Federal somente se consolidou. Mesmo com a perspectiva de oferta de mais de 4 mil megawatts de energia hidroelétrica, proveniente de rios, até 2030, o que coloca em risco a biodiversidade e tradição de ribeirinhos e outras populações afetadas pelos reservatórios, pretende-se ampliar a oferta em mais 8 mil megawatts com fonte nuclear, o que representaria um percentual de 5,7% de geração nuclear em 2030.
Mas o interessante é entender como funciona o mercado de demandas, pois o mercado de energia funciona todo ele embasado em demandas futuras. Quando existe um leilão de energia, na realidade o governo oferta a possibilidade de uma determinada geradora fornecer energia para uma demanda que está por vir. Na prática isto significa que logo após a geradora adquirir o direito de fornecer uma determinada carga para a rede nacional, ela está obrigada a cumprir com suas obrigações de mercado. Então depois do negócio fechado, as obras devem começar, pois o credor que é o governo vai cobrar, e existem penalidades impostas caso os prazos e condições acertadas não forem contemplados.
Os defensores de energia nuclear, se baseiam no custo de produção e dão de ombros para os custos ambientais e riscos agregados. Hoje, dizem os defensores nucleares, o custo médio de uma usina nuclear é de aproximadamente R$ 150 o megawatt/hora, enquanto outras alternativas como a térmica movida a gás natural chega a R$ 170 o megawatt/hora. No caso do leilão da usina hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira, vencerá a disputa o consórcio que se propuser a construir e operar a usina cobrando a menor tarifa pela energia, a partir de um preço-teto de R$ 122,00 pelo megawatt/hora estabelecido pelo governo.
Mas devemos ter o foco na demanda. Antes mesmo do crash econômico ao final de 2008, o Brasil vinha em uma linha de crescimento modesta, mas com intenções maiores. Mesmo com todo esforço de setores industriais, não conseguimos alcançar o padrão e estabilidade de crescimento almejado por aqueles que tem nos números sua visão de mundo. E não existe a médio prazo a possibilidade de este quadro inverter-se. Crescemos modestamente, não nos desenvolvemos, crescemos como uma bolha, às custas de um contingente de excluídos, ávidos por trabalho e significativos impactos ambientais adversos. Onde está a demanda exponencial por energia? Setores altamente consumidores, como a siderurgia, estão na realidade encolhendo devido à retração do mercado internacional. Recentemente a Eletrobrás apresentou seus números, em que os prejuízos chegam a R$ 1,8 bilhões no primeiro semestre de 2009. O curioso é que a Eletronuclear e a CGTEE foram as únicas empresas que apresentaram aumento. Uma responsável pela energia de alto risco nuclear e a outra, pela energia suja do carvão.
Na esteira do crescimento econômico a Eletronuclear está organizando um leilão para aqueles municípios que têm interesse em construir depósitos para lixo radioativo, rejeitos das centrais nucleares. Já existe uma série opções para localização, todas na região Nordeste. Os municípios que receberem os rejeitos nucleares, terão royalties como recompensa. Quem vai pagar pelos riscos ambientais? E quanto vale os risco sociais e ambientais das centrais nucleares e seus depósitos de lixo contaminado? Estes números estão fora do cálculo do desenvolvimento e crescimento econômico.
Felipe Amaral é ecólogo e integrante do Instituto Biofilia (
http://www.institutobiofilia.org.br)

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