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sábado, 6 de março de 2010

Grupo acha fóssil de superpredador gaúcho com 220 milhões de anos

Reconstrução da musculatura da fera ‘Trucidocynodon riograndensis’, considerada um grande predador do período Triássico (imagem: Adolfo Bittencourt).
Grupo acha fóssil de superpredador gaúcho com 220 milhões de anos
Em meio aos membros diminutos e tímidos da linhagem que desembocaria nos mamíferos, havia um gaúcho feroz. Do tamanho de um lobo e com igual apetite por carne, o animal de uns 220 milhões de anos pouco devia aos primeiros dinossauros predadores, com os quais provavelmente conviveu.
O nome da espécie, que acaba de ser apresentada formalmente à comunidade científica por um trio de pesquisadores da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), não deixa margem para dúvidas: Trucidocynodon riograndensis.
"É um supercarnívoro", define a paleontóloga Marina Bento Soares, coautora do estudo sobre a fera na revista científica "Zootaxa", junto com Cesar Leandro Schultz e o aluno de doutorado Téo Veiga de Oliveira.
Por causa da preservação extraordinária do espécime ("o esqueleto está quase completo, até o osso ainda é branquinho", conta Soares), o trio achou que valia a pena uma descrição minuciosa, que ocupa um artigo de 71 páginas -raridade nas normalmente sucintas publicações científicas.
Os mamíferos de hoje foram precedidos por uma grande variedade de criaturas chamadas cinodontes, cujo esqueleto mescla elementos típicos de répteis e outros mais característicos dos mamíferos, ou "mamaliformes". Segundo Soares, esse mosaico de características também aparece no Trucidocynodon, que não está na linhagem da qual os mamíferos são descendentes diretos.
Apesar disso, a postura geral do animal lembra bastante os elementos típicos de um mamífero caçador. Em vez da postura "esparramada" de animais como lagartos, cujos membros arqueados fazem o corpo se arrastar pelo chão, o predador gaúcho mantinha suas patas em posição ereta.
Ligeiro - Também há indícios de que, ao menos com os membros da frente, ele caminhasse apoiado nos dedos, e não na planta das patas. "Por isso, ele poderia ter hábitos mais cursoriais, ou seja, de corredor", afirma Soares. É tentador associar o ar de lobo do esqueleto com a imagem de uma espécie que caçava em bando, mas a pesquisadora lembra que não há indícios desse tipo de comportamento entre cinodontes. Por outro lado, é provável que o bicho já fosse coberto de pelos e tivesse sangue quente, porque essas características favorecem o estilo de vida ativo indicado pelos membros mais móveis desse e de outros representantes do grupo.
O tamanho e os caninos afiados fazem do bicho uma exceção entre os cinodontes gaúchos. "Foi uma surpresa, de fato", afirma a paleontóloga. Quase todos os parentes do animal têm dimensões mais próximas das de ratos ou camundongos, sendo provavelmente comedores de insetos.
O único contemporâneo de tamanho comparável é um herbívoro.
O curioso, porém, é que, conforme os milhões de anos se sucedem, "há uma tendência de miniaturização dos cinodontes", explica Soares.
Por algum motivo, são as formas pequenas ou muito pequenas que sobrevivem e acabam dando origem aos mamíferos, enquanto bichos maiores, como o Trucidocynodon, desaparecem. "Ocorrem vários pulsos de extinção ao longo do Triássico [período geológico no qual a espécie viveu], mas o porquê do fim dos cinodontes maiores ainda não está claro", diz ela.
Fonte: Folha Online
Em Rede: Ambiente Brasil

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