Meu Lugar na UFRGS
Território demarcadoFoto: Flávio Dutra / Projeto ContatoPor Maria Elisa Lisbôa
A personalidade desta edição do JU pertence ao seu lugar na Universidade desde que nasceu. A Gatinha Mimi adotou a Faculdade de Direito como moradia e ali transita livremente desde o início de 2009. “Lembro que ela ficava do lado de fora, mas às vezes entrava e depois saía.
Era meio arisca. Foi entrando e ficou”, relembra a estudante do quarto semestre de Direito Maria Angélica Feijó. Os locais preferidos da gata são as salas de aula, as poltronas de couro do Serviço de Assessoria Jurídica Universitária (Saju) e as duas bibliotecas do prédio.
A assistente administrativa da Faculdade Maria da Graça Lima Corrêa salienta que o principal benefício de se conviver com o animal é o afastamento dos roedores, além de tornar o ambiente mais familiar. “Com o tempo e com o convívio, todo mundo foi criando afeto por ela.
Decidiu-se naturalmente que ela permaneceria”, explica. A professora de Direito Civil Vera Fradera considera que Mimi é um animal que presta um serviço para a Faculdade: “A gente já tem uma dívida para com ela”, diz.
As funções de cuidado e os tratos com o bichinho são divididos entre os alunos e os funcionários, que providenciam a comida e as questões de higiene. A administradora do Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas (Iepe), Tânia Cruz, chama atenção para a importância da castração em animais que convivem nesse tipo de ambiente, o que, de acordo com ela, evita brigas e doenças. “Para o bem-estar deles, essa medida é fundamental. Então vim, busquei e fiz a castração”, conta.
A gata se tornou praticamente mais uma aluna dentro das salas de aula, de maneira que as horas de estudo são naturalmente compartilhadas entre o animal, os alunos e os professores. “Ela vai um pouco na minha aula e a nossa relação é excelente. Ela senta, anda. A gurizada se acostumou com ela”, descreve Vera Fradera. Ela considera o gato um bom companheiro para um intelectual, por ser calmo, inteligente e limpo.
“É ele que nos escolhe, não somos nós quem o escolhemos, e essa interação só faz bem”, argumenta. Por vezes, a presença da gatinha acaba desviando a atenção dos alunos, mas de modo geral todos mantêm uma boa relação com ela. “Não vejo ninguém maltratá-la”, confirma Maria Angélica.
Dentro da Faculdade, a rotina de Mimi é circular de poltrona em poltrona, especialmente dentro do Saju. Em horário de muito movimento, entretanto, os alunos procuram levá-la para outro lugar. Os dias mais monótonos da gata, na opinião do vigilante Ângelo Fábio da Rosa, são os domingos, quando ela fica só com o funcionário. “A gente sai para fazer ronda e ela me acompanha, mas, como todo gato, na maior parte do tempo ela está dormindo ou comendo”, diz. Mimi adotou de tal forma o lugar, que não permite a presença de outros gatos dentro do prédio.
Maria Angélica explica que, ao alimentar os animais fora da Faculdade, é seguida pela gata, que marca sua presença e não deixa os demais felinos entrarem. “O território dela já está demarcado”, afirma.
Apesar do envolvimento com a gatinha, Tânia Cruz lembra que o destino mais indicado para Mimi seria a adoção por uma família. Na sua opinião, dentro de um local como a Faculdade, novos vínculos são constantemente renovados, o que pode comprometer a relação com o animal: “As pessoas vão embora porque se aposentam, se formam. A casa de uma família seria um lugar mais tranquilo, eterno”, diz. Ao que tudo indica, no entanto, Mimi ainda vai permanecer um bom tempo cercada por futuros juristas. Ela não precisou prestar concurso ou fazer entrevista para ocupar este espaço na Universidade, simplesmente o adotou. “Acho que o lugar da Mimi na UFRGS é o Direito porque ela o escolheu. Ela tem a liberdade para sair, mas não sai daqui”, finaliza Ângelo Fábio.
*A autora é estudante do 7.º semestre de Jornalismo da Fabico
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