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sábado, 29 de outubro de 2011

Não é um fato consumado (Manifesto na Rádio Mundo Real em Agosto de 2011

 Não é um fato consumado
Entrevista com liderança brasileira no centro da resistência à barragem de Belo Monte
Neste sábado será realizado o “Ato Mundial contra Belo Monte” em dezenas de países. A questionadíssima barragem brasileira que está sendo construída no estado do Pará, no rio Xingu será centro de atenção em diversas partes do mundo. Na localidade de Altamira, onde as obras avançam, as comunidades locais não dão nem um passo atrás e realizam uma luta muito dura.
Como é vivida a situação atual no centro da zona em conflito? O que vão fazer neste sábado as dezenas de movimentos sociais locais que resistem a Belo Monte? Para responder estas questões, Rádio Mundo Real entrevistou a dirigente Antônia Melo, coordenadora do Movimento Xingu Vivo para Sempre, que mora em Altamira.
A militante é reconhecida como uma das vozes mais fortes contra a instalação de Belo Monte. Tem mais de vinte anos de militância na região de Altamira. Essa barragem “não é um fato consumado”, disse firmemente à Rádio Mundo Real. As palavras de Antônia, emocionada até as lágrimas, mostram uma pessoa doída e preocupada, defensora das comunidades de seu entorno, e de coração cálido na defesa da causa ambiental e social. Ao mesmo tempo, a ativista não fraqueja na hora de se manifestar firme contra Belo Monte.
O Movimento Xingu Vivo para Sempre é um coletivo de organizações, movimentos sociais e ambientalistas da região de Altamira e das áreas de influência do projeto de Belo Monte, que sempre têm se oposto a sua instalação sobre o rio Xingu.
A barragem, planificada para começar a funcionar em 2015 no coração da Amazônia, seria a terceira maior do mundo, depois da barragem chinesa de Três Gargantas e da binacional Itaipú na fronteira entre Brasil e Paraguai. Teria uma capacidade instalada de 11.000 megawatts. Estima-se que sua construção inundaria cerca de 500 quilômetros quadrados de terras que atualmente ocupam comunidades indígenas. De 20.000 a 50.000 pessoas seriam desalojadas para poder construir a usina.
Antônia expressou à Rádio Mundo Real sua alegria pela jornada de ação mundial contra Belo Monte neste sábado, porque “a sociedade brasileira e mundial está atenta a esta causa”. Para ela “É muito importante que o mundo todo, neste Dia Mundial contra Belo Monte, muitas pessoas, muitos grupos, muitas organizações estarão denunciando esse projeto assassino, de morte”. Afirmou também que Belo Monte “é um projeto do governo brasileiro, que não ouviu, que não respeitou as leis brasileiras, nem os tratados internacionais (…) o governo não ouviu as populações indígenas dessa bacia do Xingú”
Segundo Antônia, 80 porcento do bacia do Xingu (2000 quilômetros de extensão) está em terras indígenas. “O rio Xingu é um rio indígena” disse a militante que também critica o fato de o governo não ter atendido as demandas das comunidades não indígenas que moram à beira do Xingu, nem das famílias de agricultores. Além disso, considerou que as licenças oficiais concedidas a Belo Monte são “criminais” e “arbitrárias”. “Esse projeto é um projeto do governo, portanto, ele tem grande responsabilidade pelo que nós estamos vivendo aqui, que é um caos” criticou Antônia.
O Ministério Público Federal brasileiro (MPF) pediu na quarta-feira a paralisação das obras de construção de Belo Monte. Por meio de um processo judicial, os procuradores da República afirmaram que a barragem representa o inevitável desalojamento de povos indígenas, o que é proibido pela Constituição Nacional.
Antônia expressou sua emoção à Rádio Mundo Real pela notícia; ela considera o MPF “nosso grande aliado”, já que tem apresentado 13 recursos contra Belo Monte. Destacou ainda que a ação judicial da quarta-feira é a primeira em tribunais brasileiros que propõe a defesa dos direitos da natureza.
No sábado está prevista a realização de um grande ato em Altamira, ao qual comparecerão povos indígenas, agricultores, comunidades ribeirinhas do Xingu, entre outros moradores locais. As atividades continuarão ali até a segunda-feira. “É um ato de grito dos povos ameaçados e atingidos”, disse Antônia. “Nós queremos juntar as vozes para que a nossa voz chegue aos ouvidos da justiça brasileira” e para que saiba, “junto com o governo”, que serão responsáveis “por toda desgraça que viria a acontecer se Belo Monte for construído”, acrescentou.
No final, Antônia entre lágrimas pediu às populações do Brasil, América Latina e o mundo que unam suas forças, suas vozes, “com fé e esperança” contra Belo Monte, porque “o governo brasileiro tem que ouvir, tem que parar este projeto”. “Com certeza nos barraremos esse projeto de morte”, concluiu.

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